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Confiança nas pessoas

O Governo precisa de transmitir confiança, a melhor estratégia para lidar com a insegurança, e não o está a conseguir

O início do ano é sempre um momento de recomeço e por essa razão propício a enunciar desejos. Há um ano tenho certeza que ninguém imaginava o que iríamos enfrentar, pelo que os desejos para 2021 foram com toda a certeza substancialmente diferentes. Nunca desejamos tanto ter saúde e tudo o resto passou a ser secundário. Sendo certo que ninguém consegue adivinhar o futuro, a verdade é que as pessoas necessitam de ter o mínimo de segurança nas suas vidas. Temos de enfrentar a realidade e a verdade é que não começamos bem o ano.

Apesar da garantia reiterada por Miguel Albuquerque de que está tudo controlado, temos tido um aumento exponencial de casos de pessoas infectadas por covid-19. Se não podemos adivinhar o futuro, podemos pelo menos estabelecer previsões, equacionar cenários e preparar-nos. Não foi isso que o Governo Regional fez nas ultimas semanas, as que antecederam o Natal e a passagem de ano, com a consequência da Região ser considerada de risco elevado para a transmissão do vírus. Teria sido imprescindível pensar e implementar uma estratégia séria e adequada que permitisse controlar a pandemia, capacitar o Serviço Regional de Saúde para uma resposta eficaz e ter a capacidade de tomar as medidas preventivas necessárias.

O que fez o Governo de Miguel Albuquerque? Perante uma realidade que se vinha afigurando como preocupante preferiu ignorar e manter um discurso de tom acusatório em busca de responsáveis por casos de infeção. Já tínhamos assistido a essa tentativa de esconder o falhanço da estratégia e apontar responsabilidades aos estudantes e aos emigrantes na sua chegada à Região. O período do Natal foi mesmo repleto de contradições do executivo, que contrariou todas as medidas por si tomadas, reunindo-se com todos os membros do Governo à mesa de um restaurante no Mercado dos Lavradores.

As pessoas já perceberam que infelizmente estão perante um Governo que empurra as responsabilidades para os madeirenses e porto-santenses sem fazer o que lhe compete. As novas medidas anunciadas à pressa, e só porque o Presidente da Câmara do Funchal, Miguel Silva Gouveia, exigiu ação para proteger os funchalenses, foram tardias e avulsas.

Na véspera de se iniciar o segundo período lectivo, este Governo ainda não sabia o que fazer. Em cima do joelho e correndo atrás do prejuízo, determinou que as escolas dos concelhos com risco elevado de contágio não abrissem, embora o Porto Santo, apesar de apresentar esse mesmo risco, viu as suas aulas arrancarem normalmente, só fechando as escolas na parte da tarde. É preciso informar bem as famílias sobre os procedimentos a tomar nos próximos dias, de modo a que se possa retomar as aulas em segurança.

No passado dia 31 de Dezembro, Miguel Albuquerque anunciou que a Região teria 100 mil testes para os professores, alunos e auxiliares, mas nas decisões do Governo Regional tomadas na reunião na Quinta Vigia, referiu-se apenas que os professores e assistentes operacionais seriam testados.

Além destas contradições o ano novo trouxe a velha falta de transparência. Que o digam os profissionais de saúde que criticaram a desorganização do processo de vacinação, particularmente a ausência de critérios. Segundo os médicos isto levou a que, incompreensivelmente, profissionais que não tinham qualquer contacto directo com doentes covid-19 tivessem sido vacinados prioritariamente.

O momento é crítico, muito mais do que no início da pandemia, e não se compreende porque não há a devida informação à população, com as conferências de imprensa do Secretário Regional da Saúde, que antes decorriam com regularidade. Tal como não se compreende que aqui na Região nunca se tenham realizado reuniões técnicas, entre as autoridades de saúde e os órgãos de poder e os partidos políticos, como acontece no continente com os encontros no Infarmed.

Gostaria que este meu primeiro artigo de opinião de 2021 tivesse sido diferente, mas pela responsabilidade que tenho não poderia ser outro. E é essa responsabilidade que me leva a apelar ao cumprimento das novas normas e que se prossiga com o esforço colectivo de proteger a saúde de todos. O Governo precisa de transmitir confiança, a melhor estratégia para lidar com a insegurança, e não o está a conseguir. Mas tenho confiança na população e na cidadania responsável, e sei que seremos capazes de vencer esta crise sanitária, económica e social.

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