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Lula feliz com decisão da ONU mas espera pedido de desculpas da imprensa

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Foto EVARISTO SA / AFP

O ex-presidente brasileiro Lula da Silva mostrou-se ontem feliz por o Comité de Direitos Humanos da ONU ter considerado que os seus direitos políticos foram violados, mas espera que a imprensa "que divulgou tantas mentiras" peça "desculpas".

"Hoje eu estou feliz, a decisão do tribunal da ONU lavou a minha alma", escreveu Lula da Silva, no Twitter, horas depois de o Comité de Direitos Humanos das Nações Unidas ter concluído que as investigações e condenações do ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva em alegados casos de corrupção denunciados pela operação Lava Jato violaram os seus direitos políticos.

O ex-presidente brasileiro espera, contudo, que a imprensa brasileira peça desculpa e admita ter sido enganada pelo ex-juiz brasileiro Sergio Moro, que o condenou em primeira instância, e por Deltan Dallagnol, um dos procuradores mais conhecidos da operação Lava Jato.

"Eu só quero que a imprensa, que divulgou tantas mentiras sobre mim, peça desculpas e admita que foi enganada por Moro e Dallagnol", acrescentou.

Os advogados de Lula da Silva já disseram que esperam agora uma compensação por parte do Governo brasileiro.

Hoje de manhã, o Comité de Direitos Humanos das Nações Unidas divulgou uma decisão que concluiu que as investigações e condenações perpetradas contra o ex-presidente brasileiro em alegados casos de corrupção denunciados pela operação Lava Jato violaram os seus direitos humanos e políticos.

Num comunicado, este comité da ONU, formado por especialistas independentes que fiscaliza o cumprimento do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos e os seus protocolos, um tratado internacional assinado e ratificado pelo Brasil, informou ter concluído que Lula da Silva não foi julgado por um tribunal imparcial e teve o seu direito à privacidade e os seus direitos políticos feridos durante as investigações de corrupção contra si.

O comité divulgou as suas conclusões após ter considerado uma denúncia apresentada pelos advogados de Lula da Silva em 2016 sobre a forma como foi levado a julgamento na maior investigação de corrupção do país, a operação Lava Jato, que desvendou crimes na Petrobras e em outras instituições públicas perpetrados por políticos, empresário e funcionários públicos.

A investigação dos casos de corrupção da Lava Jato em primeira instância foi conduzida pelo ex-juiz brasileiro Sergio Moro, que condenou Lula da Silva num processo que o levou para prisão por 580 dias, mas o ex-juiz já foi considerado suspeito por ter atuado em combinação com o Ministério Público brasileiro e violado o dever de imparcialidade, segundo o Supremo Tribunal Federal do Brasil.

Sergio Moro, que depois viria a ser ministro da Justiça do Governo liderado por Jair Bolsonaro, também já reagiu à decisão e disse que o reconhecimento, pela ONU, de violações de direitos humanos e políticos cometidos por si contra Lula da Silva, foi um erro influenciado pelo Supremo Tribunal Federal do Brasil.

A vitória do ex-presidente neste processo movido na ONU não muda a situação de Lula da Silva, atualmente sem nenhuma condenação judicial contra si, mas tem forte simbolismo e pode ajudá-lo na próxima campanha presidencial já que o ex-governante sempre sustentou que era inocente e que foi vítima de uma perseguição judicial.

Atualmente Lula da Silva lidera todas as sondagens sobre a eleição presidencial brasileira que ocorrerá em outubro próximo, com mais de 40% das intenções de voto.