Põe-te no lugar do outro

Há coisas ditas e há as que não dizemos. No entanto, considero que é muito melhor nos arrependermos por aquilo que não dissemos do que por aquilo que não foi dito. No primeiro caso talvez haja a possibilidade de corrigir o que foi proferido, mas nunca se recuperará as palavras engolidas.

Não gosto de embarcar em opiniões pré-fabricadas só porque ficam bem ou porque, em determinado contexto, expressam o sentimento maioritário, em algum momento da história colectiva. É preciso alguma coragem para decidir viver de escolhas e não de oportunidades. Optei sempre por ser motivada e não manipulada, ser útil e não usada. Sou, por isso, escrava das opções que faço, para o bem ou para o mal, com o peso /preço que isso significa. Não acredito em tudo o que dizem por aí (que não é pouco) porque as pessoas contam a versão da história que mais lhes convém. Faço a minha própria análise e tiro as ilações respectivas, salvo se na presença de provas irrefutáveis que dispensam qualquer tipo de argumentação.

Desde o início de 2020 que se vive no domínio da incerteza, do inesperado, do medo latente, da insegurança e do insólito...Tudo à nossa volta pode acabar num segundo, à distância de um clic, premido por um louco qualquer, mas é impressionante a leveza e quase total alienação com que se encara essa possibilidade. Passeia-se a ostentação balofa aliada a alguma soberba mesquinha, qual desfile coreográfico de ouropel.

Com a Internet no bolso de quase todos, as redes sociais são o território onde vale tudo. A sede de mostrar tudo do foro privado ou público desencadeia julgamentos inevitáveis e comparações que pervertem a nossa observação. As realidades virtuais, todavia, não estão em consonância com a verdadeira realidade. Pintam-se cenários idílicos, ajustando-lhes as máscaras que usam. Que bom seria que deixassem a máscara para o teatro e fizessem de conta daquilo que realmente são.

A falta de empatia tornou-se endémica, diria até cruel, no local de trabalho, no desempenho dos cargos que exercem, nas relações de amizade, com colegas, familiares, etc, etc. Apertos de mãos, beijinhos e frases ocas, são a face visível de um odiozinho de estimação bem disfarçado.

Quem não afina pelo mesmo diapasão é alvo certo e seguro de comentários pouco felizes, que não são mais do que miudezas de vulgaridade.

É consabido que flores não crescem felizes onde há ervas daninhas.

Experimentem calçar e caminhar com os sapatos alheios.

Madalena Castro