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Obama admite em livro de memórias as dificuldades na gestão da Primavera Árabe

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O ex-Presidente dos Estados Unidos Barack Obama reflete, no seu livro de memórias hoje publicado, sobre a criticada gestão do seu Governo da Primavera Árabe de 2011 e sobre as difíceis escolhas num mundo "em grande desordem".

Na obra "A Promised Land" ("Uma Terra Prometida"), primeiro volume das suas memórias que é hoje publicado simultaneamente em 25 línguas em todo o mundo, Obama tenta explicar algumas das suas mais difíceis decisões, nos capítulos em que aborda temas de política externa.

Sobre as críticas de hipocrisia - quando ajudou a forçar a saída do líder Hosni Mubarak, senhor absoluto do Egito durante 30 anos, sendo muito mais discreto na repressão com sangue nas manifestações no Bahrein, onde estão estacionadas forças norte-americanas - Obama admite que teve dificuldade em apresentar uma justificação.

"Não tive nenhuma maneira elegante de explicar essa aparente inconsistência, além de reconhecer que o mundo estava uma confusão e que na política externa eu tinha que encontrar constantemente um equilíbrio entre interesses conflitantes", escreve Obama no seu livro.

"O facto de não poder, em todas as ocasiões, colocar os direitos humanos acima de todas as outras considerações, não significa que eu não deva tentar fazer o que posso quando posso", acrescenta o ex-Presidente.

Depois de se encontrar com Mubarak no Cairo, em 2009, Barack Obama escreveu que sentiu "uma sensação que se tornaria familiar" nas suas interações com "autocratas envelhecidos", evocando memórias de homens "presos nos seus palácios, com todas as interações filtradas pelos funcionários obsequiosos que os rodeavam e que não eram capazes de distinguir entre seus interesses pessoais e os do seu país".

O ex-inquilino da Casa Branca (2009-2017) escreve que estava ciente de correr um enorme risco ao exortar publicamente o líder egípcio a ceder o poder, mas explica que, se fosse um jovem egípcio, "provavelmente" teria feito parte das manifestações no Cairo, durante a Primavera Árabe.

"Posso não ter o poder de impedir a China ou a Rússia de reprimir os seus dissidentes. Mas o regime de Mubarak recebeu milhares de milhões de dólares dos contribuintes americanos", justifica Obama.

"Aceitar que o destinatário desta ajuda, alguém a quem chamávamos de aliado, usasse tal violência injustificada contra manifestantes pacíficos (...) foi um passo que não queríamos dar", escreve o ex-Presidente.

Dessa mesma viagem, Obama diz que guardou uma lembrança sombria da sua passagem pela Arábia Saudita, com a sua separação rígida entre homens e mulheres, confessando que ficou "impressionado com o quão triste e opressor era este lugar de segregação de género, como se tivesse entrado num mundo onde todas as cores foram removidas".

Barack Obama também pinta um retrato nada lisonjeiro do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, com quem teve um relacionamento notoriamente difícil.

"A visão de si mesmo como o principal defensor do povo judeu (...) permitiu-lhe justificar quase qualquer decisão que lhe permitisse manter o poder", escreve o ex-Presidente.

"E o seu profundo conhecimento da política americana e dos 'media' deu-lhe (a Netanyahu) a convicção de que poderia resistir a qualquer forma de pressão que uma presidência democrata como a minha pudesse ter tentado exercer", conclui Obama.

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