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A economia comportamental no dia a dia

Devido à necessidade de um uso eficiente dos nossos recursos cognitivos como a memória, atenção e processamento da informação, que são finitos, boa parte das nossas decisões no dia a dia acabam por ser realizadas em piloto automático, como o trajeto diário para o trabalho ou as lides domésticas, e não em raciocínio esforçado, deliberado e consciente, o que permite que a vida flua da forma mais eficiente possível, sem ponderarmos constantemente os prós e contras de todas as decisões, diminuindo o risco de sobrecarga mental.

Estamos, assim, cognitivamente programados para recorrermos a atalhos mentais que ajudam ao cálculo da melhor decisão possível, com os dados disponíveis, mas sujeitando-nos a enviesamentos e pontos cegos, quando a informação é arquitetada de determinada forma.

É por essa razão que os nudges são utilizados no marketing e publicidade, tomando como exemplos clássicos os que apelam a princípios que ao longo da evolução da nossa espécie aprendemos a valorizar, como o da escassez (ex: mensagens de stock limitado), urgência (última oportunidade), autoridade (recomendações de quem consideramos credível), prova social (recomendações de outros consumidores), assim como os cenários de escolha de produtos num estabelecimento comercial, ou as opções de aceitar cookies insidiosamente colocadas e salientes na cor/tamanho. Os nudges têm sido também utilizados em políticas públicas, trabalhando a favor dos atalhos cognitivos e vieses humanos. É o caso:

• Dos planos de reforma dos EUA, onde os trabalhadores passaram a estar automaticamente inscritos em vez de terem de preencher formulários de adesão, resultando num aumento exponencial da poupança;

• Da doação de órgãos em Portugal, onde a opção padrão é o cidadão ser doador, precisando de registar-se para não o ser, o que elevou o número de dadores;

• Também nos EUA, em que a colocação de alimentos mais saudáveis ao nível dos olhos, no buffet de algumas escolas, incrementou o seu consumo;

• Na educação, em escolas de São Paulo, onde lembretes e incentivos por sms a pais e jovens com piores resultados escolares sugeriu melhores performances;

• Na área da saúde, em que a mesma estratégia foi utilizada em tempo de covid, em diversos países, com orientações de saúde pública e para a toma de vacinas;

• E do nosso multibanco, em que a mera mudança da direita para a esquerda do sim na opção receber talão, e a mensagem de sustentabilidade que surge supra, fez diminuir a impressão de papel.

Ainda no campo da sustentabilidade, uma experiência na Califórnia sugeriu que a exibição do consumo médio da região em que o consumidor se encontra, na sua fatura, e um smile triste caso esteja acima da média, estimulou a redução no consumo de energia, trazendo um benefício ambiental, e também económico, para o cidadão.

Em suma, a economia comportamental pode ajudar as pessoas a adotarem comportamentos, escolhas e hábitos financeiros mais saudáveis e sustentáveis. No entanto, deve ser utilizada de forma ética e responsável, garantindo a liberdade de escolha do indivíduo, e evitar-se a sua manipulação.