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Alunos de Teatro do Conservatório estreiam hoje ‘Irene’

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Dando seguimento ao conjunto de três espectáculos protagonizados por alunos do Curso Profissional de Artes do Espetáculo - Interpretação, no âmbito do projeto ‘Panos - Palcos novos palavras novas’ (PANOS), desenvolvido pelo Teatro Nacional D. Maria II, o Conservatório – Escola Profissional das Artes da Madeira, Eng.º Luiz Peter Clode, vai estrear hoje o espetáculo ‘Irene’, de Djaimilia Pereira de Almeida.

O espectáculo teatral, orientado pelo professor Diogo Correia Pinto e protagonizado pelos alunos do 3.º ano do referido curso,  terá sessões a 30 e 31 de Março, pelas 21 horas, no Polo de São Martinho do Conservatório.

‘Irene’ é um texto dramático original, escrito por Djaimilia Pereira de Almeida, escritora portuguesa nascida em Angola, para o PANOS, projecto que anualmente convida escritores para a criação de dramaturgia original para ser estudada, discutida e trabalhada por jovens atores. O texto que vai ser levado à cena pelos alunos do 3º ano do Curso Profissional de Artes do Espectáculo - Interpretação apresenta-nos uma história de vida, que “poderia ter acontecido a qualquer um de nós”, como refere o professor Diogo Pinto. Considerada representante de uma literatura acerca de raça, género e identidade, a autora reflete neste texto estas premissas e conta a história dramática de Irene, uma mulher de raça negra a quem foi tirado, pelo próprio pai, o único filho.

Todos os espectáculos deste âmbito contam com a presença de um elemento do comité de seleção do projecto Panos, que virá analisar a possibilidade deste grupo do Conservatório ser um dos poucos selecionados a integrar o festival de encerramento do projeto, com produção do Teatro Nacional D. Maria II.

A entrada é gratuita, mediante capacidade da sala.

Sinopse de ‘Irene’:

Irene conheceu Ricardo em Luanda no dealbar dos anos 70. Ela angolana e ele português. Ela trabalhava nas limpezas e no peixe, ele era contabilista da Lusopescas. Apaixonaram-se e tiveram um filho, Joaquim. A 3 de fevereiro de 1974, Ricardo abandonou-a e levou o filho de 5 meses para Portugal. Sem explicação. Deixou somente um bilhete: “A mudança está perto”, escreveu ele. De que modo entender o drama de uma mãe a quem lhe foi roubado o seu único filho e a sua existência passou a ser a demanda de o encontrar? Como ser sensível à vida dessa mulher negra, com pouca instrução académica e parcos recursos económicos, que calcorreia invisível uma Lisboa labiríntica e inacessível na sua busca incessante? Como nos aproximarmos da mente dela? Desse loop constante em que o tempo parou no momento em que lhe arrancaram Joaquim? Como desconstruir a história recente de Portugal e perceber que, na torrente da liberdade, houve muitos que ficaram à margem da “mudança”, presos a uma data anterior a 25, estagnados entre dois mundos? Como encontrar ressoadores neste grupo, corpos adolescentes brancos e europeus, com uma vivência tão diferente de Irene? Em suma, como dar visibilidade a uma voz inaudível? A partir destas questões suscitadas pelo texto, criamos um coro de porta-vozes de Irene e da sua história. Decidimo-nos por um espaço não convencional, na procura de um ambiente intimista e confronto. Olhos nos olhos. E fomos construindo cenicamente o trabalho. Discutimos, refizemos e voltamos a discutir num ato contínuo de descoberta que não se encerra com as apresentações. Convocamos o público. Somos todos responsáveis. Poderia ter acontecido a qualquer um de nós.