Madeira

Revista internacional aborda problemas que nómadas digitais enfrentam na Madeira

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A revista dos Estados Unidos da América, Wired, abordou, num artigo online, a vila criada na Ponta do Sol para trabalhadores remotos.

No artigo, Gonçalo Hall – um dos maiores embaixadores do trabalho remoto do mundo – refere que quando chegou à Madeira em Setembro de 2020 ficou estupefacto com a ilha e, apesar de a ter visitado quando era criança, não se recordava de quão bonita era.

Há dois anos quando chegou e com “os olhos de um nómada digital” não deixou passar a oportunidade em contactar a Secretaria Regional da Economia e perguntar porquê não estavam a investir nos nómadas digitais.

Trabalhadores remotos podiam viver tal como os locais e junto dos locais. Podiam viver nos mesmos bairros, comer nos mesmos restaurantes e conviver em encontros coordenados por um ‘gerente comunitário’.  Wired.

O artigo online menciona que na altura o turismo no arquipélago encontrava-se abalado devido às proibições de viagens por causa da Covid-19 e que a solução seria os nómadas digitais.

Os centros urbanos estavam saturados de trabalhadores remotos, mas a Madeira, a menos de duas horas de voos de Lisboa, ainda estava sob o radar. Os profissionais com altos salários poderiam injectar dinheiro em empresas locais, disse Hall às autoridades regionais. Tudo o que eles precisavam para recebê-los era uma infraestrutura convidativa e uma internet pronta a usar. Se fosse construída, Hall prometeu que eles [nómadas digitais] viriam. Wired.

Após uma reunião com o presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque, o “negócio foi fechado”. A Startup Madeira coordenou o projecto e Gonçalo Hall encarregou-se de escolher o município da Ponta do Sol como a localização para esta ‘vila’.

O projecto foi possivelmente uma inevitável extensão ansiosa do abraço de Portugal continental a trabalhadores estrangeiros remotos, ele próprio como parte de uma expansão global da legislação favorável aos nómadas digitais e das indústrias privadas atendendo às suas necessidades. O que, de certa forma, foi irónico: embora a pandemia tenha fechado fronteiras para muitos, ela criou incentivos financeiros para abri-los a outros. Wired.

Tal como noticiado na altura pelo DIÁRIO, a primeira Digital Nomad Village foi oficialmente inaugurada em Fevereiro de 2021. A inauguração contou com alguns residentes, como Kamil Kokot, um polaco que trabalhava como software developer, a sua irmã, dois alemães e Gonçalo Hall.

Primeira 'Digital Nomad Village' da Madeira abre amanhã na Ponta do Sol

Há cerca de 4.376 nómadas digitais, oriundos de cerca de 90 países, com interesse em viver e trabalhar na Região

Erica Franco , 17 Fevereiro 2021 - 14:49

“Pela Primavera, a ‘vila’ já tinha aumentado para 50 e Kokot sentia que já tinha criado um pequeno grupo de amigos”, apresenta o artigo.

Pela altura que visitei, em Fevereiro de 2022, o projecto já tinha um ano de existência. Cerca de 200 trabalhadores remotos estavam alojados em arrendamentos na freguesia da Ponta do Sol. Pelo menos mais 1.000 haviam comprado quartos, apartamentos e moradias em outras partes da ilha – em alguns casos porque o 'stock' já estava esgotado ou o preço estava muito alto na Ponta do Sol. Muitos vieram para a cidade para trabalhar em conjunto ou participar em aulas de ioga, workshops e outros eventos que marcavam o calendário da Digital Nomad Village. Wired.

Ainda assim, segundo o artigo, nem tudo correu bem. “Vários dos residentes temporários da Ponta do Sol disseram-me [Gonçalo Hall] que esperavam ansiosamente pelo potencial da Digital Nomad Village, mas ficaram desapontados depois de chegar devido à pouca interação que havia com os madeirenses”, lê-se no artigo.

Eles tentaram encontrar as suas próprias maneiras para se conectarem com os locais: conhecer os funcionários dos cafés e restaurantes pelo nome, andar de transporte público, fazer voluntariado em canis, aprender português, participar em jogos de futebol. Alguns contemplaram a fixação na Madeira a longo prazo, outros iniciaram encontros com empreendedores sociais madeirenses. Wired.

Apesar das intenções de Hall ao desenvolver esta ‘vila’, o artigo explica que as consequências de trazer tantas pessoas em tão pouco tempo complicou na entrega de uma “comunidade”.

O vídeo promocional da StartUp Madeira para o projecto vende a Ponta do Sol como um lugar que pode ser chamado de lar – uma visão superficial de pertença que não exige compromissos e não carrega nenhum fardo ou história. Wired.

No texto lê-se ainda que a “Ponta do Sol tem, actualmente, a maior densidade de alojamentos locais da ilha, tendo triplicado nos últimos anos" o que tem levado "os residentes a realocar as propriedade de arrendamento e turismo para esse mercado ou a construir mais” para esse fim.

Representantes do governo local garantiram-me que os jovens trabalhadores itinerantes atraídos pela Digital Nomad Village eram valiosos e bem-vindos à região. Mas, quando falei com o presidente da Junta de Freguesia da Ponta do Sol, João Campanário, ele disse-me que nunca tinham visto um. Wired.

O preço das casas na Ponta Sol “aumentou 30% no último ano”, enquanto o mercado de arrendamento “desceu aproximadamente 42% no mesmo período”.

Cerca de dois terços dos apartamentos custam mais de 1.000 euros – numa região onde o salário mínimo é de 723 euros. No Funchal, as rendas são ainda maiores: a pequena cidade é a segunda devido à falta de acessibilidade. Os madeirenses pagam agora uma grande parte do seu salário numa renda Wired.

A concluir, Hall vê o presidente do Governo Regional como um político que “pensa como um CEO – enquanto os outros vêm um edifício vazio, ele vê uma oportunidade de investimento”.