Artigos

Uma crise como nunca se viu exige respostas nunca vistas

Quem vê os investimentos que são anunciados pelo Governo Regional da Madeira nem parece que estamos a viver uma crise nunca antes vista, no tempo das nossas vidas, é mais do mesmo, como se continuasse tudo como dantes.

É inegável que houve uma resposta imediata à pandemia, com medidas de emergência no setor da saúde, ou de apoio à economia entretanto paralisada. Umas medidas mais acertadas que outras, todos os governos cometeram erros e não havia planos de contingência que permitissem lidar de forma substancialmente melhor com a situação.

Mas nos investimentos é que se joga a resposta à crise a médio prazo. Adivinhar o futuro é sempre ‘proibido’ mas esperar por um futuro igual ao que era imaginado antes da pandemia não faz sentido. Os investimentos que foram pensados antes da pandemia devem portanto ser reponderados.

Continuar a investir em obras públicas sem cuidar da sua utilidade futura, nem das alternativas onde possam ser melhor aplicadas as verbas não é ajuizado. É certo que qualquer obra cria emprego no imediato e ele faz tanta falta, mas é possível combinar esse efeito imediato com outros objetivos para o futuro.

Não faz sentido continuar a destruir a beleza natural da Madeira com betão, seja em cima do calhau, ou em plena Laurissilva. A extensão do porto do Funchal faz sentido? Num horizonte de dez anos vamos voltar a ter cruzeiros como havia no passado recente?

A dependência alimentar do exterior é quase absoluta, mas vemos terrenos com aptidão agrícola abandonados por falta de acessos e de água de rega. Pequenas obras de grande valor que permitiriam um rendimento complementar a muitas famílias e a recuperação da paisagem.

Os Governos preferem as obras que fazem vista, em vez das que fazem falta, escrevia o Eça há 200 anos.

Outra vertente é a pobreza e a marginalidade que crescem com a crise. Sem trabalho, não há pão. É preciso mais do que cabazes de ajuda, há que criar atividades socialmente úteis e uma remuneração que confira dignidade e integração. Não há polícia nem sistema de videovigilância que resolvam a insegurança de não se saber se vai haver pão para comer amanhã.

Estas respostas só o Estado pode dar, porque os privados só querem saber do seu lucro.