Madeira

O caos, o ‘mea culpa’ e o inexplicável

None

Boa noite!

. A Câmara do Funchal provocou hoje a ira de quem se viu engarrafado demoradamente num trânsito caótico, de quem viu gente amontoada para apanhar autocarros fora das paragens habituais, de quem a esta hora não pode ver, nem pintada, a autarquia que, em vez de facilitar, complica. Isto porque fechou ruas em plena hora de ponta para deixar correr atletas, provocando um transtorno inusitado. Que o faça em horas mortas ou fins-de-semana pacatos é discutível, sobretudo para os que acham que o bloqueio à cidade é permanente, mas tolerável, mormente por quem tem da urbe uma concepção mais utilitária e dinâmica. Em dia de trabalho e às seis tarde é gozar com quem deu o dia fora. O Funchal pode até querer ser capital europeia da Cultura, mas se continuar com atitudes provincianas arrisca-se a ser uma pista de atletismo, um tascódromo ou uma feira de qualidade duvidosa.

. O secretário regional da Saúde reconheceu hoje que a pandemia provocou "alguns constrangimentos" na prestação de serviços de saúde na Região. “Alguns” é favor. Registamos o tímido ‘mea culpa’ de Pedro Ramos e os objectivos desta suave passagem da esponja oficial por um problema que deixa marcas profundas na nossa vida pessoal, familiar e colectiva. Nem será preciso que a tormenta passe para todos percebermos os efeitos nefastos das consultas que ficaram por dar, das cirurgias adiadas e dos tratamentos interrompidos. Pode ainda ninguém ter morrido com covid-19,mas por causa do vírus já muitos partiram sem remédio nem atenção.

. Acabo de ver 5 mil adeptos ao rubro no Estádio da Luz. Ao longo do dia notamos um mar de gente a engolir ondas com os olhos na Nazaré. No domingo passado olhamos incrédulos para os milhares ‘ao molhe e fé em Deus’ no autódromo de Portimão. O futebol, o surf e a F1, de nível europeu ou mundial, podem ter público. Na I Liga nem por isso. Afinal, quem manda no futebol não são os donos da bola, mas as autoridades de saúde.

Nem todas são como a dos Açores. A madeirense deu parecer negativo à hipótese de haver público no dérbi insular, disputado num estádio com capacidade para 10 mil almas. Nem mil, nem 500, nem 100. Zero, pois o medo assim o exige. Bastava fazer contas. 10% da lotação dos 'caldeirão' teria sempre menos gente por metro quadrado do que a multidão que vai à curva mais espectacular dos ralis, do que os crentes que ainda vão à igreja e do que os alunos que estão obrigados a ir às aulas em salas de dimensão reduzida. Se ao menos houvesse quem pensasse...

Fechar Menu