A fuga para a frente

Da minha adolescência nos anos 70 do século passado, e dos tempos de marinheiro que então, muito proveitosamente usufrui, guardei a lição de que há duas maneiras de passar por uma tempestade: “cerrar” (deitar abaixo) todos os panos (velas) e esperar que ela passe; ou “fugir em frente”, i.e., armar todos os panos e correr adiante do mau tempo, esperando que este se dissipe antes de nos alcançar.

Não tendo cumprido serviço militar obrigatório, por via dos sortilégios que determinaram que eu não era necessário às forças armadas da Nação, não deixei de ter em conta algumas lições de estratégia militar e retive, entre outras, a noção de que, mau grado a convicção com que entro na batalha, devo prever, um caminho de recuo. Muitos generais perderam guerras por não terem precavido as vias de retrocesso; em alguns casos de desespero, é “o tudo ou nada” e jogam-se ali todas as cartas que restam.

Quer-me parecer que Miguel Albuquerque está, politicamente, ferido de morte pelo escândalo e ciente de que a recente decisão judicial será, forçosamente, efémera, porque destituída da mínima razoabilidade. Quem aprofundar as coisas conclui, facilmente, que nem nas aparências o “iliba”, nem que seja porque muitos indícios que lhe são imputados não foram objecto desta decisão. Quanto ao resto, a Relação de Lisboa logo dirá, na certeza de que o inquérito continua e muito virá, ainda, à superfície. Nem que seja pela tentadora promiscuidade entre os inquiridores e os órgãos de comunicação social ou pelo simples facto do inquérito que tem estado nas antenas estar aberto à comunicação social.

Perante a avassaladora circunstância que, à primeira vista recomendaria o recato a que Pedro Calado, muito bem aconselhado, se remeteu, Miguel Albuquerque decidiu-se pela “wild card”. “Fugiu em frente, arvorou o pano todo”. Pediu a convocação de eleições internas e um Congresso legitimador. Com a sua iniciativa que, não temos dúvidas, será coonestada pelo Conselho Regional do PSD e deixando fracas hipóteses de reacção a qualquer oposição interna, Albuquerque será, por certo, vencedor no seu partido. Resta saber se essa vitória interna, assim fabricada, representará uma consistente afirmação perante o eleitorado madeirense que é muito maior do que o somatório das sensibilidades internas do PSD/Madeira.

No dia 10 de Março, já veremos para onde vão os votos! E mesmo depois, muito está por discutir!

João Cristiano Loja