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Comissão espanhola recolheu em nove meses 445 denúncias de abusos sexuais na Igreja

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O provedor de Justiça de Espanha recolheu 445 testemunhos de abusos sexuais na Igreja Católica no país nos últimos nove meses, desde que foi criada uma comissão com esse objetivo, segundo um relatório hoje divulgado.

"Estamos satisfeitos com o ritmo de chegada dos testemunhos e com o número de vítimas que se dirigiram a nós, mas o que realmente nos importa e preocupa, mais do que o número, é ouvir as vítimas e fazê-lo com respeito, com seriedade, com discrição e com confidencialidade", lê-se num comunicado do provedor, Ángel Gabilondo, divulgado hoje, dia em que entregou ao parlamento espanhol o relatório anual da Provedoria de Justiça espanhola.

O relatório contém um anexo sobre a investigação de abusos sexuais de menores na Igreja Católica em Espanha que foi pedida há cerca de um ano à Provedoria de Justiça pelo Parlamento e que arrancou há nove meses.

Segundo o documento, chegaram à Provedoria 445 testemunhos de abusos sexuais através dos canais que foram criados com esse objetivo (email, telefone, correio tradicional e denúncia presencial).

O provedor já começou a pedir informação às dioceses espanholas para avançar com a investigação.

"É o momento dos factos" e de verificar qual o nível de colaboração da Igreja, disse o provedor.

"Está tudo num processo que me permite pensar que a Igreja vai colaborar", acrescentou Ángel Gabilondo.

Segundo o provedor, continuam a ser recolhidos testemunhos e antes de a atual legislatura acabar, no final deste ano, Ángel Gabilondo fará nova atualização dos dados e da situação da investigação que o Parlamento lhe pediu.

O parlamento espanhol decidiu em 10 de março do ano passado criar uma comissão presidida pelo provedor de Justiça para investigar, pela primeira vez de forma oficial, os abusos a menores no seio da Igreja Católica.

Proposta pelo Partido Socialista (PSOE), no poder, e pelo Partido Nacionalista Basco (PNV), esta iniciativa foi aprovada por uma maioria muito ampla de 277 votos num Congresso dos Deputados (câmara baixa do parlamento) com um total de 350 membros eleitos.

Em Espanha, a violência sexual contra menores no seio da Igreja nunca foi sujeita a uma grande investigação.

Na ausência de dados oficiais, o diário El País lançou o seu próprio inquérito em 2018, listando mais e 1.200 vítimas desde os anos 1930.

Por seu lado, a Igreja só reconheceu cerca de 220 casos desde 2001.

Vários países, entre os quais Portugal, estão a investigar abusos sexuais cometidos por membros da Igreja Católica ao longo dos anos.

Em Portugal, a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica validou 512 dos 564 testemunhos recebidos, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de vítimas de cerca de 4.815.

Vinte e cinco casos foram reportados ao Ministério Público, que deram origem à abertura de 15 inquéritos, dos quais nove foram já arquivados, permanecendo seis em investigação.

Estes testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, período abrangido pelo trabalho da comissão.