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Especulações

Quando penso que já ouvi tudo e a coisa não pode piorar, há sempre alguém que vem demonstrar o contrário.

Podia, sei que estão a pensar que é isso, vir falar-vos daquela encenação a que recentemente assistimos na ALR, um espectáculo inenarrável a que nem faltou a ausência do actor principal, que aliás compreendo; quem andou distraído tantos anos pode perfeitamente ter-se esquecido de pedir para lá ir justificar o que disse.

Não é esse o motivo deste escrito mensal, apesar de confessar que foi esse o tema do primeiro rascunho. Mas como não posso alegar offs para dizer aquilo que me vai na alma, achei que seria melhor virar a agulha para outro lado…

Disse recentemente um senhor deputado, após uma visita à ARAE, o seguinte: - descobri que, em Portugal, os supermercados podem praticar os preços que quiserem. Fim de citação. A sério? Descobriu isso? Bendita ARAE, que ao menos esclarece os mais incautos destas minudências…

O objectivo desta infeliz frase era enquadrar a brilhante ideia seguinte: - fazer com que o Estado português passasse a estabelecer os preços dos produtos que se vendem nesses estabelecimentos. Assim mesmo, foi isto que o senhor disse e, julgo saber, sem sequer ter ido recentemente a nenhuma visita de Estado certificar-se das maravilhas da economia planificada da Coreia do Norte ou da Venezuela.

Isto foi o princípio de um dos temas do momento: - a especulação e os ganhos excessivos de alguns, que supostamente se aproveitam da inflação para também eles inflacionarem os seus ganhos. Acho mesmo muita graça a esta discussão, que a ninguém ocorreu ter quando permitiram, a esses tais usurpadores, vender para além dos produtos normais, móveis, livros, seguros, férias ou roupa. Se calhar páro por aqui, que às tantas vão fazer-me falta os caracteres…

E taxar produtos a mais de 20%, que são comprados com rendimentos também eles taxados a níveis obscenos, venham eles do trabalho ou de qualquer outra proveniência? Pois, têm razão, não é especulação; é mesmo roubo! Mas ai de se mexer em taxas que é preciso manter a clientela e não é barato aguentar uma tão pesada máquina do Estado!

Ao já mencionado senhor também não ocorreu falar com ninguém sobre a questão dos custos energéticos, que se calhar de forma nada especulada estão a aumentar, chegando a 50%, nalguns casos.

Também aqui, tudo normal e considerar a electricidade um bem de luxo, taxada ao máximo, não merece nem uma declaraçãozita. Até porque isso vai resolver-se como de costume: - cobra-se primeiro, deixa-se passar uns meses (no caso, parece que já falta pouco e Abril está aí à porta) e depois concede-se um subsídio que cobre parcialmente o aumento da despesa. Desde que não existam dívidas ao Estado e se chegarmos a tempo, que o dinheiro depois acaba…

Já estou em pulgas para ouvir a próxima. Sim, é difícil fazer pior do que isto mas, para alguns, o céu é mesmo o limite…