Carta à democracia

No rescaldo do último ato eleitoral e visto que só foi encerrado no passado dia 9 pois faltavam os votos dos emigrantes, concluiu-se que dos 10.820.337 eleitores inscritos, votaram apenas 5.649.496, sendo que desses, 54.299 nulos, 65.095 brancos. Além da ainda excessiva abstenção dos inúmeros votos brancos e nulos, por causa do método eleitoral que vigora no nosso país, (método de Hondt), milhares dos votos válidos foram pura e simplesmente inúteis. Segundo estatísticas publicadas, mais de 671.000 votos foram pura e simplesmente para o lixo não tiveram qualquer utilidade. Dos votos válidos o partido mais votado obteve: 2.343.866 votos, 2º/ 1.571.811, o 3º/ 410.965, o 4º/ 275.688, o 5º/ 249.584, o 6º/ 242.478, o 7º 92.582, o 8º/ 90.539, o 9º/ 72.610, mas veja-se que a próxima Assembleia da República apenas estará formada por 8 forças políticas, pois a 8ª que recebeu mais votos do que a 9ª que não elegeu deputado algum. Agora pergunto eu: afinal que raio de democracia é esta? Metade dos eleitores não votam; abstenção 45,5% (reduziu em relação às anteriores eleições), mas continua em grande número, votos branco, 0,96% e nulos 1,15%, um partido com menos votos elege e o que tem mais não, além dos votos inúteis afinal das contas feitas 47% dos portugueses com direito a voto estão-se marimbando para as eleições e os que ainda tentam remar contra a maré no final deparam-se com esta matemática trapaceira. Não acham que é hora de alterar o modelo eleitoral e de voto para que os portugueses se sintam motivados a participar? Como se pode designar de maioria um governo quando na realidade A MAIORIA dos portugueses nem votou. E quem elegeu os deputados para que os eleitores que ainda se sentem motivados a comparecer nas urnas escolherem? Será que os eleitos serão mesmo dignos representantes de quem os escolhe, ou serão meras peças colocadas pelos interesses do regime por parte dos partidos, para tentar manter válido um sistema caduco? Pior ainda; existir dois pesos e duas medidas no trato de deputados eleitos democraticamente e que por questões de falta de cultura democrática expressa, insiste-se em que não devem fazer parte da cena política ostracizando e ignorando quase 411.000 portugueses. Até onde foi conduzido este modelo de democracia que aceita quem defende e apoia dogmas intoleráveis e desprezíveis, ditaduras que oprimem e massacram povos, e rejeita quem enfrenta um sistema que sobrevive sob a capa da mais miserável das formas como o é a comprovada corrupção sustentada no perpetuar a miséria do povo e no fomentar da sua «ignorância». Acho que chega a hora que é preciso restaurar a democracia, resgatar a liberdade e restituir os valores da sociedade atualmente assente num caos que irá conduzir o país a uma situação inimaginável. Os milhões da bazuca poderão tornar-se em explosivos para uma nação massacrada pela injustiça. Enquanto não formos capazes de conseguir superar os nossos medos, os receios das sucessivas intimidações a que somos sujeitos, em acreditar nas nossas capacidades para fazer o país crescer financeira, económica e democraticamente e sair deste marasmo a que tem sido conduzido progressivamente em quase 48 anos duma suspeita democracia e mais acentuadamente delapidado pela corrupção nos últimos 20 anos.

A.J. Ferreira