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Zero defende redes de electricidade e gás alinhadas com descarbonização

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A associação ambientalista Zero defendeu hoje que o futuro das redes de eletricidade e de gás deve estar alinhado com a descarbonização da sociedade, no âmbito dos investimentos previstos até 2030, e sugeriu uma reavaliação dos planos existentes.

Em causa estão o Plano Decenal Indicativo de Desenvolvimento e Investimento da Rede Nacional de Transporte, Infraestruturas de Armazenamento e Terminais de Gás Natural Liquefeito para o período 2022-2031 (PDIRG 2021) e o Plano de Desenvolvimento e Investimento na Rede de Transporte de Eletricidade para o período 2022-2031 (PDIRT-E 2021).

"Continuamos a discutir o plano referente a Gás Fóssil", afirmou a Zero, em comunicado, defendendo que a prioridade do sistema energético nacional é a sua eletrificação, acompanhada do aumento da produção renovável, por forma a atingir a neutralidade carbónica antes de 2050.

Neste sentido, preconizou um plano único que inclua a futura rede de hidrogénio verde produzido de fontes renováveis e o Plano de Desenvolvimento e Investimento na Rede de Transporte de Eletricidade, "reduzindo os investimentos nos combustíveis fósseis conforme as metas defendidas".

Para a Zero, a utilização do hidrogénio não pode justificar a perpetuação do gás fóssil e a sua infraestrutura de transporte.

"Os pressupostos do PDIRG são frágeis e requerem uma reavaliação", sustentou, referindo-se ao documento que esteve em consulta pública.

"Concluímos que é necessário repensar a forma como o operador de rede de gás desenvolve este importante instrumento para o desenvolvimento das redes energéticas do país. Os fatores utilizados para a definição dos pressupostos não têm em conta fatores que terão impacto sobre o setor, como sejam as políticas climáticas ou a adoção de novas alternativas tecnológicas pelos consumidores", reiterou a associação, que participou na consulta pública.

Um dos exemplos mais concretos, de acordo com a Zero, é a "inexistência de uma avaliação de impacto das políticas climáticas" na utilização de gás fóssil para diferentes setores.

O documento, disse ainda o dirigente da associação, Francisco Ferreira, num texto hoje divulgado, "parte de uma utilização ilimitada no tempo das infraestruturas de gás", fatores que, na sua opinião, resultam "num risco sério para os consumidores que terão de suportar a subutilização de infraestruturas ou a sua ociosidade".

Para a Zero, também o desenvolvimento da rede de hidrogénio assenta "em pressupostos frágeis" e carece de uma análise sem a qual se partirá do princípio de que a rede de gás corresponde aos pontos de procura e consumo de hidrogénio: "O que é incorreto pois o custo-eficácia do hidrogénio face às alternativas existentes para o gás fóssil em determinados setores é substancialmente diferente".

Segundo a associação, a mistura de hidrogénio com gás fóssil permitirá "alavancar a produção de hidrogénio verde e desenvolver em Portugal as cadeias de valor do hidrogénio", mas os custos não deverão recair sobre os consumidores, pois os consumidores de gás hoje "não serão necessariamente os consumidores de hidrogénio no futuro".

Relativamente à rede elétrica, a ZERO assinalou que todos os sinais vão no sentido de o consumidor se poder tornar um produtor através da instalação de painéis solares ou outros equipamentos.

"Porém, a Zero verifica que a proposta de PDIRT-E 2021 continua focada numa perspetiva tradicional de evolução do Sistema Elétrico Nacional (SEN) com a produção por um lado e o consumo passivo por outro, sem perspetivar uma maior participação ativa do consumo, e de todas as potencialidades do armazenamento distribuído, e com impactos significativos ao nível da necessidade de construção de novas linhas de transporte de eletricidade", lê-se no documento.

Assim, aconselhou o operador da rede de transporte (ORT) a ter uma abordagem "mais estruturada" deste assunto. "É importante que se comecem a desenhar desde já os necessários estudos de suporte ao PDIRT-E que tenham em conta a tendência crescente do comportamento ativo dos consumidores, bem como do contributo positivo da produção distribuída nas decisões de investimento, tanto na rede de transporte como na rede de distribuição", alegou.

Para os veículos elétricos, a associação pretende ver desde já "uma estratégia concertada para potenciar soluções de carregamento inteligente".

No caso da rede elétrica, referiu, "não há, ou pelo menos não é descrita e analisada, uma visão global para o País sobre a localização mais vantajosa da nova geração renovável e de que tipo (apenas é referido que o sul tem mais apetência para a Solar e o norte para a Eólica), de modo a que se possa construir uma visão ambiental estratégica de minimização de impactos".

Na análise que fez aos documentos, a organização concluiu que as avaliações ambientais estratégicas deveriam ir mais além, nomeadamente ao nível de definição de boas práticas resultantes da adoção e monitorização dos projetos no terreno.

"No caso da rede elétrica, é fundamental acautelar as consequências resultantes da instalação de linhas aéreas em áreas povoadas, através de linhas parcialmente enterradas, a definição de custos acordados para aplicação de sistemas de minimização do impacto das linhas elétricas sobre a avifauna e que nos projetos os planos de monitorização atualmente pouco transparentes e sem resultados palpáveis que não conduzem a qualquer alteração concreta após a implementação dos projetos no terreno, conduzam a verdadeiras intervenções visando mitigar os impactos", defendeu.