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O meu ranking

E o sucesso na vida é ter mais e mais, conquistar lugares de topo, subir na escala

Não há pandemia, nem os seus efeitos perniciosos na vida de pessoas e escolas, para os/as defensores/as e patrocinadores/as dos rankings das escolas. A sua lógica imutável repousa na visão da competitividade enquanto mecanismo indispensável à evolução e crescimento(?) da humanidade. A Educação é mais um produto de mercado, gerador de lucros. E o sucesso na vida é ter mais e mais, conquistar lugares de topo, subir na escala. Ou ser a orgulhosa escola número um. Assim, educar cidadãos/cidadãs significa acumular conhecimentos, competir por melhores posições, salários, ter dinheiro no bolso. Um modelo económico consumista, predador da Natureza, suicida, onde a dimensão obscena dos lucros e das contas bancárias de um reduzido grupo é diretamente proporcional à magnitude da destruição ambiental, ao volume imoral do desperdício de recursos, e à crescente multiplicação de pobres à escala global, – nos antípodas da sustentabilidade necessária à sobrevivência do planeta em perigo.

Mas talvez se deva questionar estas perspetivas. Para entender que a formação dos/as cidadãos/cidadãs, mais do que treinar o mecânico e automático responder a questões em exame e debitar matéria curricular convencionada, deve servir para aprender a compreender o mundo, lidar com as desigualdades e injustiças que dificultam a visibilidade de tantos grupos sociais, - próximos como o/a colega de turma, os/as jovens de Ceuta, ou distantes como as pessoas da Palestina, de Cabo Delgado, a minoria Rohingya, etc., porque vivemos num mundo globalizado. E discutir ideais de sucesso, padrões culturais, estereótipos de escola e de sociedade, por detrás dos atuais rankings…

Talvez importe investir mais na “justiça curricular”, (in, “Que Educação queremos para Portugal”, Pedro Patacho, Porto Editora) ponderar se tudo o que é decidido superiormente e feito na escola, é respeitoso e atende às necessidades e emergências de todos os grupos sociais. Se as tecnologias educativas, os manuais digitais contribuem para uma pedagogia crítica, diferenciada, estimuladora da criatividade que faz o mundo pular e avançar, como diz o poeta! No polo oposto, podemos confrontar-nos com mecanismos de vigilância e controlo, promotores do seguidismo acrítico de redes sociais, influencers, youtubers da moda, mas também discutíveis líderes políticos e religiosos, por utilizadores/as facilmente manipuláveis, sem liberdade…. Chama-se a isto, politizar a educação. Por um sistema educativo mais justo e inclusivo para todos/as, uma educação democrática, e não apenas para os lugares de topo dos rankings das escolas! Politizar a educação é reconhecer a enorme variedade de seres humanos; aberração é compará-los com se mercadoria fossem, como se todos/as tivessem as mesmas características, capacidades, envolvências, os mesmos gostos e sonhos…

Tomando os exemplos de solidariedade, generosidade, dedicação, entrega, gratidão de tantas pessoas nesta pandemia, talvez ensinar que, no mundo, mais do que competir e comparar, o importante é partilhar, cooperar e ajudar, abraçando projetos educativos para a diversidade e complexidade da sociedade, as suas exigências, condicionalismos, incertezas. Para além do diploma de estudos, do certificado de competências, ter um salvo-conduto para a vida. E questionar, de que modo um modelo único de avaliação final – exames nacionais, como sinónimo de credibilidade, confiança, rigor e qualidade dos ensinamentos – é justo para toda a diversidade da população estudantil. E como estruturar uma educação escolar globalmente equitativa para todos/as, em que ninguém fique para trás. Um ranking de valores intemporais?