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Coerência

A nossa vida é uma súmula das mais variadas vivência e experiências, boas e más, marcantes ou não, esclarecedoras ou enigmáticas.

Más, marcantes e esclarecedoras, todos as temos. Em particular, recordo a forma como o “antigo” Jornal da Madeira abordou a minha inclusão numa certa lista eleitoral em 2011. Caluniosa no mínimo. E isto antes de ter feito qualquer declaração ou intervenção. Reconfortaram-me, “É normal, não ligues”.

Não será ingénuo pensar que, tal abordagem estaria em linha com a defesa que fiz da classe médica ou, a luta em contracorrente da construção de um Novo Hospital para a Madeira, um “Tabu” nessa altura. Foi um exemplo perfeito da (falta de) cultura de liberdade de imprensa, mesmo se pública, e paga pelos impostos de todos.

Um tempo depois, tal foi-me recordado por alguém que, mais tarde, aprendi a reconhecer como a antítese disto. Lúcido, frontal, inteligente, o José Bettencourt Câmara. Na altura a sua luta era a defesa diária do “seu” jornal, o Diário de Notícias. Eram tempos da Troika, do PAEF, de desemprego e falências. E da falta de publicidade. E os apoios públicos, todos eles destinados ao jornal da concorrência (JM), a “nomenklatura” editorial do regime.

Pediu ajuda ao meu partido, ao Governo da República, às instâncias europeias e de regulação nacionais. Tentamos ajudar, na medida da nossa relativa insignificância.

E ele fez do Diário mais do um jornal. Um foco de promoção da Madeira, da sua economia, do CINM, do turismo, do desporto, da solidariedade. Foi perfeito? Não. Perfeito só para os lados do Olimpo, mas sempre com garra e a crença que a liberdade de expressão só existe com pluralidade.

O seu tempo acabou e chegou a sua merecida reforma, após uma carreira que o deve reconfortar. A mesma reforma que os “desvarios” Socráticos ameaçaram a minha geração de não usufruir, como muitas vezes o seu jornal alertou.

Estranhei… bem, para ser verdadeiramente sincero, já não, que o voto de louvor à sua pessoa não tenha sido consensual entre os nossos deputados, em especial pelos deputados do meu partido, que tantas lutas com ele partilharam. Até porque, se o voto é tendencioso, ou mal escrito, faz-se outro, como bem aprendi nos meus tempos de deputado.

Fica o legado e, também, a minha necessidade de coerência com a pessoa e os factos. Um Bem-haja.