Crónicas

“Nolite te bastardes carborundorum” *

1. Disco: há tanta música para ouvir, tanta música para descobrir, que dou por mim a pensar: “como é que isto me passou ao lado”? Foi o que aconteceu com os Manchester Orchestra, uma banda de “indie rock” de Atlanta. Tropecei, por mero acaso, no seu último trabalho, “The Million Masks Of God”, e foi amor à primeira vista. Estes desgraçados já vão no seu sexto trabalho. Agora vou obrigar-me a ouvir todos os outros cinco discos. Tenho a certeza que vou tirar muito prazer disso.

2. Livro: “Presos Por Um Fio — Portugal e as FP-25 de Abril”, de Nuno Gonçalo Poças, é um livro imprescindível para quem gosta de história contemporânea portuguesa. Um livro imprescindível para que não nos esqueçamos da barbárie que atravessou a política portuguesa, pela mão de terroristas de extrema-esquerda. Assaltos e roubos, assassinatos, bombas e atentados que resultaram em 18 mortes, de entre as quais se destaca a de um bebé de 4 meses e a de Gaspar Castelo Branco, director-geral dos Serviços Prisionais. Um livro imprescindível.

3. Vou dizer devagarinho, a ver se percebem: só o Estado de Emergência permite o recolher obrigatório. A situação de calamidade permite limites ou condicionamentos, à circulação ou permanência, o que não é a mesma coisa. Está tudo muito claro na Lei de Bases da Protecção Civil e a Lei da Vigilância da Saúde Pública e na “maldita” da Constituição da República Portuguesa, a “mãe” de todas as leis deste triste país que, no seu Artigo 19.º, número 1, diz o seguinte:

“Suspensão do exercício de direitos

1. Os órgãos de soberania não podem, conjunta ou separadamente, suspender o exercício dos direitos, liberdades e garantias, salvo em caso de estado de sítio ou de estado de emergência, declarados na forma prevista na Constituição.”

Todos os 8 pontos que integram este artigo referem-se aos Estados de Sítio e de Emergência, a única maneira de suspender exercício de direitos, liberdades e garantias. O estar em casa ou sair quando me apetecer é um direito que tenho e que só o Estado de Sítio ou o de Emergência me pode tirar, com certas condições bem definidas nos n.º 4, 5, 6 e 8.

Não há pontos de vista nisto. Não há cá “achismos”.

Ou seja, há grandes diferenças entre confinamento mitigado (que não contempla imposição) e recolher obrigatório. A começar pelas medidas legais a aplicar a quem não cumprir um ou o outro.

Para nos entendermos, eu não digo que isto está certo ou errado. Não está escrito acima uma linha que deixe transparecer se acho ou não que precisamos de manter o recolher obrigatório. Refiro somente o que determina a lei neste estado de direito em que vivemos e que temos que defender.

E isto não é ser do contra, é ser a favor da legalidade.

4. Sr. Presidente do Governo: NÃO EXISTE ESTADO DE CALAMIDADE. Existe SITUAÇÃO DE CALAMIDADE.

Essa mania socialista de meter Estado à frente de tudo.

5. Lá caíram umas medidas de desconfinamento. Sempre da mesma maneira, aperta-se e alivia-se sem um único dado científico, sem um estudo, sem um número que seja. No continente, pelo menos, arranjaram o quadradinho das cores para servir de medida. Mal ou bem, pelo menos tem uma base para aplicar e definir critérios. Nós temos o “penso que” e o “achismo”. Peçam emprestado aquela espécie de “tablet” do COVID que estabelece o valor do Rt. Pelo menos, ficávamos com um bocadinho de ciência para fundamentar as decisões. Ou, então, justifiquem a necessidade, citem fontes, trabalhem apoiados em números e, depois, peçam-nos que evitemos sair de casa que a esmagadora maioria de nós cumpre. Se nos explicarem conseguimos perceber, acreditem que sim.

Engraçado ouvir os discursos de vitória de quem ganha as eleições: “o povo é sabedor”… “o povo sabe bem o que quer”… “este resultado é prova de grande maturidade e conhecimento”, “é agora que todos juntos”…, etc.

E, no dia a seguir, toca de tratar o povo como se fosse acéfalo, não confiando nele, julgando que é estúpido demais para perceber seja lá o que for. Tratam-nos assim e, depois, se reagimos, somos do “contra” por exigirmos que nos respeitem a inteligência. Uma pessoa cansa-se disto.

Por favor, deixem de nos tratar como idiotas.

6. Porque é importante, vou continuar a usar máscara se não conseguir manter o distanciamento social e estiver a menos de dois metros de alguém durante mais de quinze minutos (conforme determina a DGS) e a lavar, ou desinfectar, as mãos com frequência.

E isto deve ser feito por todos, por uma questão de civilidade.

7. Diz que a presidência comprou, por adjudicação directa, um mastro para uma bandeira por 10.290€. Deve ser forrado a ouro, mas eu não acredito nisso… que seja forrado a ouro.

8. Nas comemorações do 25 de Abril, o Presidente da República proferiu um dos melhores discursos que ouvi até hoje. Pôs tudo no seu devido lugar e na devida proporção. Marcelo Rebelo de Sousa esteve no seu melhor. Não sendo seu seguidor, curvo-me perante as suas sapientes palavras.

9. Inauguro, hoje, este novo ponto onde pretendo colocar tudo aquilo que a política do desmemoriamento quer que esqueçamos.

Há explicações que continuam a não ser dadas, números que não se revelam. Estão, como sempre, à espera que o assunto caia no esquecimento. Cá estaremos para não deixar que isso aconteça.

Miguel Albuquerque reafirmou manter “total confiança” no secretário regional de Economia, Rui Barreto. Quando alguém está agarrado ao poder, a única coisa que importa é mantê-lo. Nem que, para isso, se solte um elefante numa loja de porcelana, se tenham de engolir sapos e dormir com o Diabo. É o poder pelo poder e não há mais nada que interesse.

Pode ser que, assim, caiam agarrados.

Já saiu a lista com o nome de todas as empresas que beneficiaram de apoios do Governo Regional, logo dos contribuintes, de modo que fique provado que os tais 190 milhões de euros que o secretário regional da Economia refere que foram disponibilizados para apoiar as empresas e o sector privado, o foram?

Depois da incompetência que houve na trapalhada do caso do Professor Joaquim, atestada pelo tribunal, Jorge Morgado continua na Inspecção da Educação?

E os números da saúde? Quantas consultas foram adiadas? Quantos exames foram adiados? Quantas cirurgias foram adiadas?

Aonde vai a Secretária Regional da Caridade na próxima semana? E que empresa vai o Presidente visitar?

Alguém sabe quando estreia “Onde Pára a Ciência, Parte XXI”?

Para a semana há mais.

10. “A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação ensina-nos a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las. – Santo Agostinho

* “Não permitas que os bastardos te reduzam a cinzas”, Margaret Atwood