Soube através do Diário de Notícias, que nesta época de caça, será permitido abater Pombos Torcaz, sem limite de indivíduos. Se já era surpreendente, serem os guardas do Parque Natural a fazê-lo no passado, agora a situação ultrapassa todos os limites de razoabilidade e roça até o crime contra a natureza. O pombo torcaz é uma espécie única, protegida e extremamente importante no ecossistema da floresta laurissilva. É um símbolo e um cartaz desta floresta. Um orgulho e privilégio para todos os madeirenses, um deleite para os observadores de aves que nos visitam. É apresentado nas escolas aos alunos como um guardião e protetor da floresta, pois espalha as bagas que come. Expliquem a esses alunos, agora, que afinal, vão ser caçados! Insto as organizações ambientais e afins a apresentar queixa, junto das instâncias europeias, pois a espécie, afinal, está a ser mal protegida nesta região. Se há prejuízos na agricultura, indeminizem os agricultores, usem estratégias que não passe por um abate, seja ele seletivo ou indiscriminado. Vi há uns anos um documentário em que na Austrália, um agricultor tentava proteger de milhares de papagaios a sua colheita, empilhada sob a forma de um monte. O agricultor empunhava uma arma, mas, apenas podia disparar para o ar. Conseguem ver a diferença? Um tiro no pombo torcaz, é muito mais do que isso: é um tiro na nossa dignidade enquanto povo, pois nem é capaz de proteger o que é genuinamente seu, é também um tiro no futuro dos nossos filhos e na esperança de um mundo melhor. O que se segue? Começar a abater lobos marinhos quando estes começarem a comer o peixe dos pescadores? Já estivemos mais longe...

António Freitas