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Brasil nega existência de racismo no país

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O vice-presidente brasileiro, general Hamilton Mourão, afirmou hoje que "não existe racismo" no Brasil, ao comentar o caso de um homem negro que foi espancado e morto num supermercado no país, na noite de quinta-feira.

"Lamentável isso aí [caso de assassinato de homem negro]. Isso é lamentável. Em princípio, é segurança totalmente despreparada para a atividade que tem de fazer [...] Para mim, no Brasil não existe racismo. Isso é uma coisa que querem importar aqui para o Brasil. Isso não existe aqui", afirmou Mourão à imprensa local.

Um dos jornalistas no local voltou a reforçar a pergunta, pedindo que Mourão confirmasse que não acredita na existência de racismo no Brasil.

"Não, eu digo para você com toda a tranquilidade: não tem racismo aqui", frisou o general, argumentando que esse problema existe nos Estados Unidos da América (EUA).

"Eu digo para vocês o seguinte, porque eu morei nos EUA: racismo tem lá. Eu morei dois anos nos EUA, e na escola o 'pessoal de cor' andava separado. Eu nunca tinha visto isso aqui no Brasil. Saí do Brasil, fui morar lá, era adolescente e fiquei impressionado com isso aí. Isso no final da década 60", relatou o vice-presidente sobre a sua experiência em território norte-americano.

A opinião de Hamilton Mourão, porém, não é compartilhada por outros políticos brasileiros, que consideram o racismo como "a origem de todos os abismos" do país.

"Amanhecemos transtornados com as cenas brutais de agressão contra João Alberto Freitas, um homem negro, espancado até à morte no Carrefour. O racismo é a origem de todos os abismos desse país. É urgente interrompermos esse ciclo", escreveu o ex-presidente Lula da Silva na rede social Twitter.

Já o candidato à prefeitura de São Paulo e líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, afirmou que o racismo é "estrutural" no país sul-americano.

"'Não existe racismo no Brasil', disse Mourão há pouco. O racismo não só existe, como é estrutural. O combate a ele está no centro do nosso projeto de inversão de prioridades. Vamos transformar São Paulo na capital da resistência a esse Governo genocida", disse no Twitter Boulos, que concorreu à Presidência do Brasil em 2018.

"Quando o Presidente é racista e o vice-presidente Mourão nega o racismo no Brasil e fala em pessoa de cor, nós vemos o nível a que chegamos. Crimes como o assassinato de João Alberto no Carrefour não são factos isolados. Tem racismo e tem Bolsonaro estimulando ódio e preconceito", disse, por sua vez, a presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann.

Até ao momento, o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, ainda não se pronunciou acerca da morte do homem, de 40 anos, que foi morto violentamente por seguranças da rede de supermercados Carrefour, na cidade brasileira de Porto Alegre.

A morte ocorreu na véspera do Dia da Consciência Negra, uma celebração instituída no Brasil em homenagem a Zumbi, líder histórico do quilombo Palmares, uma comunidade criada por negros fugidos no nordeste do Brasil que resistiam à escravidão imposta pelos portugueses durante a colonização.

Nesse sentido, Bolsonaro publicou apenas uma foto de uma camisola da equipa de futebol Santos, assinada pelo ex-jogador de futebol Pelé, que recebeu hoje de manhã, numa alusão às comemorações do Dia da Consciência Negra.

Bolsonaro chegou a ser julgado em 2018 pelo crime de racismo. Em causa está uma conferência realizada pelo agora Presidente no Clube Hebraica, no Rio de Janeiro, em abril de 2017, em que, perante uma audiência de 300 pessoas, Bolsonaro supostamente teria usado expressões de natureza discriminatória contra negros quilombolas.

Os negros quilombolas são os descendentes de escravos negros que fugiram antes da abolição e vivem em pequenas comunidades rurais do interior do país, em áreas demarcadas.

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