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Pensar positivo em época de pandemia

Ter melhores condições de saúde na prevenção e no tratamento das doenças é crucial

Continuamos a viver tempos bem difíceis. Continuamos a enfrentar um inimigo desconhecido que, invisivelmente, vai atacando a saúde de milhões de pessoas em todo o mundo, e milhares no nosso Pais. Diz-se que na Madeira estamos melhores. Mas as últimas notícias não são animadoras e, mesmo que os governantes não gostem de pronunciar a palavra “transmissão comunitária”, tudo indica que ela já existe, o que nos deve preocupar ainda mais

Não existem cantinhos do céu quando falamos de uma pandemia. Podemos até estar um pouco melhores, tendo em conta as medidas mais rigorosas que foram tomadas, sobretudo no caso dos testes no aeroporto. Mesmo assim, pelas informações que tenho, há muita gente que viaja para zonas de risco e nunca chegam a fazer o teste, porque há quem ache que o inimigo não ataca nas viagens com duração inferior a 72 horas. Tenho muitas dúvidas sobre isto, mas já sei que não sou expert na matéria e que os que se julgam assim vão atacar, dizendo que me meta na minha vida.

Diz-se, também, que este inimigo é “democrático” porque não escolhe as vítimas e as fere indiscriminadamente. Mas, quando se estuda a lista das pessoas falecidas, embora também morram pessoas mais novas, o que vemos é que a maioria das vítimas vivia em lares, muitos sem condições, que andavam camuflados um pouco por todo o País. São, muitas vezes, autênticos depósitos de pessoas à espera do seu dia final. Sabemos que muitas famílias não têm as mínimas condições para ter as pessoas mais velhas em casa. O problema é a conceção política destes lares. É a falta de estima porque quem é mais velho e já contribuiu para o País com o seu trabalho e os seus impostos.

Dar mais qualidade de vida às pessoas idosas não tem feito parte da agenda política deste País. Trata-se quem é mais velho como se fosse um “trapo” ou, então, um “atrapalho” que, se calhar, já devia ter morrido porque dá muita despesa nos orçamentos. Tivemos antigos governantes que chegaram a usar o “problema grisalho” como um custo que tinha que ser reduzido para o País poder enfrentar a crise deles.

Esta pandemia tem mostrado muita coisa que andava escondida. Embora os problemas da falta de recursos humanos nos Serviços de Saúde já sejam debatidos há muito tempo, a sua solução tem vindo a ser constantemente adiada. Como é que podemos compreender que o Governo Regional, em 2019, tenha cortado verbas destinadas ao Serviço Regional de Saúde no valor de 8,6 milhões de euros? Como é que se compreende que muitas pessoas estejam à espera de uma simples cirurgia às cataratas durante anos? Como é que se deixa que pessoas fiquem com muitas dificuldades motoras por falta de uma operação a um joelho ou uma anca? Sei que tenho falado muitas vezes destas questões, mas elas são ainda mais fundamentais nas atuais circunstâncias. Para não falar, novamente, nas doenças mentais que se alastram e nos suicídios que aumentam, sobretudo no sexo masculino.

Eu sou apologista que se deve pensar positivo em épocas como a que estamos a atravessar. Não devemos deixar de viver a nossa vida e sermos felizes, até porque não podemos adiar o tempo, e nós vivemos AGORA. Tenho aprendido, durante esta pandemia, a dar valor a tantas coisas, e algumas das quais estavam escondidas dentro de mim. Acho que vale a pena viver com dignidade e responsabilidade. Devemos cumprir a nossa parte enquanto pessoas responsáveis, individualmente falando.

Mas não devemos cruzar os braços e deixar de exigir a quem gere os nossos impostos que cumpra, também, o seu dever. Ter melhores condições de saúde na prevenção e no tratamento das doenças é crucial, para vivermos mais anos com qualidade de vida. Refundar o critério das instituições que têm à sua responsabilidade as pessoas mais velhas, que necessitam de ajuda, é fundamental para que toda a gente, tenha a idade que tiver, se sinta útil e tratada com toda a dignidade a que tem direito.

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