Artigos

Pensar será pecado?

Quem percorre os jardins da prestigiada Universidade Humboldt de Berlim, pode tropeçar numa inocente inscrição, no chão de um dos pátios. Nela, o poeta Heinrich Heine faz um hino à compreensão dos outros, afirmando: “Quando se queimam livros, acaba-se a queimar pessoas”. Estas palavras foram-me explicadas por um padre amigo, e sempre me acompanharam desde jovem.

Vem isto o propósito da necessidade, sempre atual, de refletir e encontrar pontos de acordo com quem pensa de forma diferente e de potenciar vontades.

A SEDES – Associação para o Desenvolvimento Económico e Social, nasceu na ditadura, na esperançosa “Primavera Marcelista”, desiderato que se esfumou. Marcelo Caetano cismou oito meses até assinar o decreto que autorizaria a SEDES em 1970. Tinha consciência do significado que teria para o país. Curiosamente, autoriza na mesma altura, o Semanário Expresso, outra instituição do Portugal democrático, plural e europeu.

Passaram pela SEDES as mais proeminentes figuras públicas. Conhecida como a “Escola de cidadania”, contou como fundadores, o atual Presidente da República e o atual secretário-geral da ONU.

Ficou famosa a defesa que Sá Carneiro fez da liberdade de imprensa, numa conferência da associação no Porto e a antevisão que Adriano Moreira fez do regresso do país ao mar, do estreitar das relações com os PALOP e o reforço de Portugal nas instâncias europeias, ideias que acabaram por acontecer.

Deve-se, porventura, a esta simbiose de personalidades do PSD, PS, CDS e independentes, que partilham os valores do humanismo, da moderação e da tolerância, outra das divisas que a associação ostenta: “Pensar Portugal ao Centro”.

Num período de enormes desafios globais e regionais, o consciente coletivo é dominado nas redes sociais por debates simplistas, verdades paralelas e uma confusão entre informação e conhecimento. Quando o pensamento escrito e fundamentado é esquecido e trocado um simples emoji, ou um insulto vazio, não há dúvidas de que precisamos mais elevação, como de água para matar a sede.

O médico Álvaro Beleza, o atual presidente, é o arquiteto da vinda da SEDES para a Madeira. Assume, sem preconceitos, que “é herdeira da ética, abertura de espírito e coragem intelectual com que Francisco Sá Carneiro vincou a vida pública portuguesa”. E rejeita o “ideário simplista e populista dos extremos, sejam eles de direita ou de esquerda”, assegurando que a SEDES não será um partido político, mas isso não significa que seja “apolítica”.

A sociedade madeirense, algo reservada na sua maneira de ser e agir, tem aqui, porventura, uma plataforma de discussão de assuntos relevantes. Estudar os passos percorridos pela Autonomia e como perspetivar os próximos. Aprofundar o conceito de “madeirensidade”. Perspetivar consensos que ultrapassem os interesses particulares na economia e na solidariedade.

A sua implementação na Madeira tem desafios. Escapar à tentação de ser um meio de ataque das oposições ao governo e, ao mesmo tempo, que seja capaz de fazer uma reflexão útil, que influencie esse mesmo governo.

Carl Gustav Jung, o fundador da psicologia analítica, definiu, num dos seus 12 arquétipos, o Sábio é aquele que “aprende por aprender”, e o que mais teme “é ser enganado por informações falsas”.

Saibamos nós “aprender por aprender”, e saibamos recusar as “informações falsas”, de forma a beneficiar de uma “escola de pensamento”. Para deixarmos de herança aos nossos filhos e netos um país e uma região de futuro, um lugar apetecível para a vida e para a felicidade de cada um.