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As raparigas envenenadas

São ignóbeis os atentados que vêm ocorrendo no Irão contra centenas de raparigas indefesas. Já passam das 5.000 as que, nas respectivas escolas, foram covardemente envenenadas.

Num primeiro momento, com início em novembro, os trágicos eventos foram ignorados pelo estado iraniano. Mais recentemente viu-se obrigado a intervir tantos são os casos, as pressões dos pais das meninas e as manifestações internacionais de repúdio por tamanha barbárie.

Tudo começou com a morte da jovem curda por causa do uso indevido do véu islâmico. As manifestações sucederam-se, primeiro contra a torcionária polícia dos costumes, depois contra o regime doentiamente fanático que condenou e matou gente inocente só porque participaram nos protestos.

Imagino o tormento porque passam os pais das pequenas envenenadas, sem saberem o que lhes pode ainda vir a acontecer. Sem saberem que veneno está em causa. Sem vislumbrarem investigação séria e independente de factos tão graves.

A explicação plausível encontra a guarida para o crime nos fanáticos fundamentalistas, que não só castigam assim as raparigas por terem sido as grandes impulsionadoras das manifestações, como aplicam a tese pré-histórica de que as miúdas não devem ir à escola. Quando já são mais as mulheres em todos os escalões de ensino naquele país.

E há a doutrina oficial que, obrigada a investigar e explicar um crime colectivo hediondo, anuncia que os suspeitos vão ser exemplarmente condenados. Até aqui tudo bem, não podia ser de outra forma. Mas, depois, acrescentam que os autores são os inimigos do Irão. Verdade? O ayatolah bebeu ou “ganzou”. Só pode.