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O Estado da Região

Dos anos de governação do PSD já superaram os quilómetros de uma maratona

Assinalou-se no dia 1 de Julho mais um Dia da Região e em breve discutir-se-á na Assembleia Regional o Estado da Região - e esse estado é o resultado de uma situação política concreta, que importa analisar com atenção.

Comecemos pelo estado da governação: como aqui classifiquei recentemente, de desorientação absoluta. Três anos depois das últimas eleições e a um das próximas, 46 anos depois de governação pelo mesmo partido, o que há de novo para apresentar aos madeirenses? O que trouxeram os últimos três anos e o que se propõem a trazer os vindouros? Absolutamente nada. Só essa inércia explica que seja necessário continuarem a recorrer à alegoria de quatro décadas de desenvolvimento, assente em fundos europeus, endividamento ilimitado e muitas opções questionáveis, como se ele não tivesse chegado ao resto do país e fosse caso único - não apenas nacional, mas mundial. A narrativa é a mesma de sempre: fizemos mais e melhor e o que não fizemos foi culpa de outros -o problema é que não é verdade.

O estado da governação reflecte, de resto, o estado dos partidos que a lideram. O CDS já não esconde que o seu único objectivo é a sobrevivência política - e por isso já acena com uma coligação pré-eleitoral para mais quatro anos, precisamente para cumprir, diz, com o diferencial fiscal que só não cumpre agora porque não quer. O PSD tenta, mas também já não consegue esconder o que ficou evidente aos olhos dos mais atentos desde o último Congresso Regional. O episódio dos discursos no Chão da Lagoa, que se prolongou no Congresso Nacional do PSD sob a forma de quem é o mais influente junto do novo líder Montenegro, se Albuquerque, se Calado, é o sinal mais notório de que no PSD estão mais preocupados com a sucessão do que com a governação. São sinais cada vez mais claros de um desgaste e divisão semelhantes a 2013.

Sobre o estado da oposição, digo o mesmo desde Fevereiro de 2020, quando, olhando para 2019, apelei a uma reflexão que permitisse resolver dificuldades crónicas para garantirmos melhores resultados futuros - nomeadamente a necessidade de multiplicarmos a voz local, que o crescimento das representações parlamentares não resolveu e a derrota nas últimas eleições autárquicas agravou. Preocupados em promover o pensamento único interno, a incapacidade externa de unir protagonistas em torno de uma estratégia e mensagem comuns está bem visível na dispersão comunicacional reinante: entre idas a Londres e ao Senado francês, há gente a mais a correr em pista própria, do palco local ao internacional, e gente a menos a correr estafeta em pista comum. Os anos de governação do PSD já superaram os quilómetros de uma maratona e cada um dos protagonistas da oposição regional continua a parecer condenado a correr um quilómetro à vez, em sprint, sucumbindo antes do seguinte. Cada um no seu próprio palco, discursando para a sua própria audiência e repetindo a estratégia de sempre, incapazes de chegar verdadeiramente aos madeirenses de que precisamos para construirmos efectivamente uma Madeira melhor.

Só a conjugação de tudo isto explica que, perante o momento de incerteza que vivemos, o estado da Região seja a de um povo amorfo, conformado, politicamente desligado e incapaz de reagir ao que quer que seja. Só um sobressalto geracional parece capaz de originar a rebelião cívica necessária para mudar o estado de coisas de uma Região aparentemente condenada a ser menos do que pode ser e do que desejamos que seja. O estado da nova geração não é o que escutámos no dia da Região - porque é uma geração que exige mais, não menos; melhor, não pior; com perspectiva de futuro, não com invocações patéticas do passado. O Mário Pereira, um jovem fotógrafo cheio de talento e provas dadas, resumiu o sentimento de tantos melhor do que alguma vez serei capaz de fazer: “Feliz Dia da Região aos meus amigos emigrados! Aos estudantes que foram e já não voltam! Aos que vivem na casa dos pais! E aos que não têm trabalho. Somos grandes na importação de estrangeiros e exportação de madeirenses”.

É este o Estado da Região que temos - mas todos sabemos que há outra Região possível e que, querendo, conseguiremos construí-la para as gerações seguintes. É nisso que nos concentraremos: em unir e mobilizar uma geração para mudar a Madeira.