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Instalação ‘Antropia’ apela à preservação da biodiversidade

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A 25 de Fevereiro, sexta-feira, pelas 18 horas, é inaugurada nos jardins da Rua Nova da Quinta Deão, freguesia do Imaculado Coração de Maria, a instalação ‘Antropia’.

Conforme explica a Câmara Municipal do Funchal em comunicado à imprensa, esta iniciativa que surge no âmbito do projecto de arte e ecologia ‘As Nossas Árvores’ é orientado pelo artista plástico Hélder Folgado e resulta tanto da colaboração do grupo Equilíbrio, rede de capacitação estratégica em arte e ecologia, iniciado na Ilha da Madeira em 2020, como do apoio da Direcção Regional da Cultural e da Câmara Municipal do Funchal.  

Esta intervenção artística enquadra-se num projecto colaborativo de arte e ecologia que, durante os próximos seis anos, irá desenvolver, a partir de 24 árvores, diversos projectos criativos. Este projecto tem como objectivo valorizar o património arbóreo madeirense, particularmente nas suas dimensões ecológicas e culturais e, ao mesmo tempo, sensibilizar a importância da preservação da biodiversidade.  ‘Antropia’ é uma instalação site-specific onde irão utilizar a matéria orgânica das árvores para a construção de uma peça de arte que se projecta através da estrutura do ringue existente na Quinta Deão e que começa já a ganhar forma. Residente nesta freguesia, Hélder Folgado, tem como objectivo contribuir para a sensibilização comunitária acerca dos benefícios do coberto vegetal na retenção de águas e consequente controlo da erosão do solo e no melhoramento da nutrição das plantas. CMF

É de realçar que este projecto artístico integra a candidatura do Funchal a Capital Europeia da Cultura.

Sobre a instalação

Por entre os blocos de apartamentos da Rua Nova da Quinta Deão, deparamo-nos com um jardim onde habita uma majestosa Ficus. A sua presença confere ao espaço urbano uma dimensão bem mais pacífica ao seu entorno e um sentido de pertença ao lugar. Nela, sinto os ciclos biológicos como em nenhuma outra na cidade, talvez porque dela desponta matéria orgânica de forma ininterrupta: primeiro as brácteas, logo depois as tenras folhas e, por fim, os minúsculos figos — importante alimento para insectos e pássaros. Os frutos, ao se precipitarem sobre folhas e chapas de carros (que ali aproveitam a sombra da grande árvore), produzem, no seu embate, um gotejar como se de chuva se tratasse. A rua ganha então uma outra sonoridade mas também outro cheiro, proporcionado pelo esmagar dos frutos por quem, a escassos centímetros do seu tronco, caminha ou joga à bola, ou pelos pneus de veículos que por ali passam incessantemente. Temos também a pigmentação do pavimento, resultante desse almofariz aleatório, e que confere uma “aura” ao espaço assim circunscrito pelo tamanho da sua copa. Em dias de muito vento, formam-se aglomerados de folhas em tudo o que é esquina, como que desenhando uma evidência no espaço mas, para muitos dos habitantes desta rua, toda esta dádiva da natureza é equivalente a lixo porque conspurca o olhar (mas sobretudo os seus carros), já para não falar do trabalho de limpeza quase diário que pensam ser necessário. Tudo tem que estar asseado, organizado, imaculado, até mesmo a desnutrida terra dos jardins. Esta Ficus, muito embora continue a ser identificada como sendo um exemplar da espécie benjamina, carece de critérios taxonómicos mais rigorosos. Mesmo a olho nu é visível que o formato e a dimensão das folhas são muito diferentes das verdadeiras Ficus benjaminas. Trata-se de um trabalho de identificação que, apesar de complexo - porque a família da ficus é uma das maiores no reino vegetal - é de extrema importância para melhor a preservarmos.

Sobre Hélder Folgado

Hélder Folgado licenciou-se em escultura na Faculdade de Belas Artes do Porto e concluiu, em 2019, o grau de mestre na mesma instituição. Desde então a sua prática artística tem vindo a explorar, com maior enfoque, a cera, entendida como uma das matérias-primas basilares na cultura humana e outros materiais, maioritariamente orgânicos e susceptíveis à transformação. Tem realizado vários projectos que exploram as intersecções e os limites entre as diversas disciplinas artísticas segundo processos de mediação, transferência, simultaneidade e recursividade.