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Funchal Sempre calado

No próximo dia 20, Pedro Calado fará um ano como Presidente da Câmara do Funchal - um ano que importa avaliar com a mesma atenção que tantos dedicaram à anterior vereação.

Comecemos pelo essencial: os eleitos. PSD e CDS apresentaram-se a eleições coligados para, diziam, colocar o Funchal Sempre à Frente, mas até agora a única coisa que conseguiram foi deixar o CDS para trás. Depois de acusarem outros de implodirem coligações, o que dizer então de uma cuja equipa de vereação durou menos de seis meses e, ao fim de menos de um ano, fez evaporar meia dúzia de vereadores e um parceiro de coligação? É a isso que se resume o legado do CDS na governação: meia dúzia de meses de gestão.

Depois, as promessas: Calado prometeu resolver miraculosa e instantaneamente todos os problemas que via na cidade, sobretudo a insegurança, o trânsito e a insalubridade.

Ora, passado um ano, a insegurança cresce diariamente, com a cobertura conivente de quem fez tudo o que estava ao seu alcance para impedir que se implementasse a solução mais lógica, mais evidente e mais custo-eficiente para um problema de dificílima resolução: para além do sistema de videovigilância projectado pela anterior vereação, avançar com a implementação da Polícia Municipal, libertando a PSP para o combate à criminalidade.

A limpeza da cidade também piorou, com notícias de sexta-feira a responsabilizarem até a ARM pela proliferação de lixo, entretanto desmentidas pela própria empresa, que não tem nada com o assunto. Com mais recursos humanos e materiais, adquiridos pela anterior vereação, Pedro Calado percebeu que também aqui não há milagres.

Agora, o trânsito: Calado cumpriu com a destruição da ciclovia, mas, surpresa, as dificuldades agravaram-se - e agravaram-se porque o Funchal está refém de uma visão do século XX para a mobilidade, que quer trazer ainda mais carros para o centro da cidade, e com uma política de transportes públicos regionalizada e não descentralizada, incompetentemente liderada no Governo pelo CDS.

A equipa, as promessas e, finalmente, as medidas: o mesmo Calado que iria manter os postos de trabalho da FrenteMar, levou pouco mais de um mês para dispensar trabalhadores com proximidade ao PS, fosse dirigente, ou nadador, estendendo a factura a quem ousou ser candidato a vereador. O mesmo PSD que acusava a anterior vereação de distribuir cargos, multiplicou-os com a promessa de que assim se resolveriam os problemas internos que só quem não conhece a máquina da CMF pôde acreditar que teriam resolução instantânea com mais chefias.

Engana-se quem acha que é só falta de jeito de Calado: Cristina Pedra, a sua Vice-Presidente, também se profissionalizou em maquilhar - os números das contas e orçamentos foram para martelar; as cores azuis foram para mudar para laranja; os programas de apoio foram para renomear; o site e os serviços digitais já existentes foram para reprogramar; e, cúmulo dos cúmulos, os pagamentos que já aconteciam foram para reanunciar e as cobranças de juros no Mercado por si decididas foram para depois desculpar.

Chegados aqui, os problemas do meu Bairro da Nazaré perpetuaram-se, as dependências aumentaram, os problemas de acesso à habitação acentuaram-se; não há transportes, estacionamentos, creches, nem consultas gratuitas; as esplanadas não desapareceram e os jardins não cresceram. O que mudou foi a Derrama, extinta a favor das grandes empresas, e o Orçamento Participativo, desaparecido em prejuízo dos cidadãos.

Um ano depois, não resisto a partilhar uma última nota sobre algumas das áreas que tutelei como Vereador e que foram sempre alvo de intenso e duríssimo escrutínio: a Protecção Civil continua o seu plano de crescimento sustentado; os Bombeiros Sapadores do Funchal continuam a corresponder; o projecto de requalificação do Mercado, por nós idealizado e financiado, que antes iria descaracterizá-lo, agora avança com toda a Confiança; o Plano de Juventude que de nada servia continua a ser implementado; e os apoios e eventos que fazem do Funchal a capital regional do Desporto Para Todos já não são constrangimento, são motivo de contentamento. E, já agora, a obra do Matadouro que era uma excentricidade, agora é o principal centro de promessas para o futuro da cidade.

Há um ano, os funchalenses votaram democraticamente e escolheram mudar - mas escolheram-no com base numa coligação e equipa que já não existem, num programa que nunca existiu e numa visão de futuro para a cidade que nunca existirá. Escolheram o Pedro Calado de 2021, esquecendo o de 2013. Um ano depois, muitos dos que contribuíram para esse desfecho, anunciando milagres aos sete ventos, olham para a cidade que temos e ficam mudos. Em 2022, é o que temos: perante tanto problema que antes era contestado, um Funchal Sempre calado.