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A Educação e os ziguezagues do Governo Regional da Madeira

A pandemia da Covid-19 arrastou as populações para uma nova realidade de dificuldades extremas com consequências devastadoras no setor económico, social, cultural e educativo. Perante um contexto com este nível de interferência na sociedade, os governantes não poderão enveredar, em momento algum, pelo caminho da propaganda e dos chavões cobertos pela arrogância, exigindo-se o sentido do compromisso e do diálogo com todos os intervenientes políticos e sociais, construindo, em conjunto, decisões políticas assertivas e sustentáveis.

A Educação, em particular, pela envolvência e a especificidade da sua missão, onde ninguém deve ficar para trás, trabalhando a formação e a qualificação de crianças, e de jovens, precisa de medidas políticas coerentes, claras e promotoras de estabilidade.

Não foi essa a atitude deste Governo Regional, pois, quando se esperava uma reabertura do ano letivo, neste segundo período escolar ou final de primeiro semestre, bem planificada, sem inconstâncias nem contradições, porque a evolução das infeções pela Covid-19 já era previsível e sempre destacada pelas entidades de saúde da Região, assistiu-se, todavia, a um ziguezague de informação e de indecisões sem fundamento que ajudou a criar um ambiente de instabilidade nas escolas e junto dos pais e encarregados de educação.

A 31 de dezembro, o Presidente do Governo Regional informou que tinha um stock de 100 mil testes antigénio e que iria utilizar parte para testar as cerca de 52 mil pessoas que compõem o universo escolar da Madeira, isto é, alunos, docentes e pessoal não docente, no sentido de garantir mais segurança a todos. Todavia, a 3 de janeiro, o Secretário Regional de Educação já vem contradizer esta diretiva informando que, afinal, não só os alunos já não seriam testados, como os testes à Covid-19 seriam realizados apenas pelos professores e pessoal não docente das escolas dos concelhos com risco elevado ou muito elevado, desvalorizando o facto de que muitos destes profissionais que exercem funções nestas escolas dos concelhos que não se encontram neste nível de risco elevado, circulam e residem nos concelhos que se encontram em risco elevado, muito elevado ou extremo.

A 11 de janeiro, apesar do processo de testagem aos professores e pessoal não docente estar a decorrer, nas condições estipuladas, e no mesmo dia em que o Secretário Regional de Saúde afirmou que estava tudo controlado, justificando que, no momento, “havia 51 cadeias ativas, mas que já existiram, na Região, mais de 100”, e depois de o Presidente do Governo dizer que, embora tenha havido um aumento de infeções, “o melhor local para os nossos jovens estarem são nas escolas”, e depois do Secretário Regional de Educação afirmar que as escolas eram lugares seguros (e são, sem dúvida), o Governo Regional decidiu, incoerentemente, encerrar as escolas para o ensino secundário e o terceiro ciclo.

Estas contradições e tantas outras dúvidas poderiam ser esclarecidas se os jornalistas tivessem a possibilidade de efetuar questões no final da conferência de imprensa. O que é que pretendem esconder? No início da pandemia, quando as infeções na Região eram residuais, sem óbitos a registar, sem casos dentro dos lares nem nas instituições de saúde, sem doentes internados em Unidades Polivalentes e Unidades de Cuidados Intensivos do Hospital dr. Nélio Mendonça, as conferências de imprensa eram diárias, repetitivas e abertas às perguntas dos jornalistas. Contudo, nesta fase de enorme complexidade, provocada pelo aumento significativo de infeções pelo coronavírus, com a Madeira a atingir o nível de risco muito elevado de contágio, com tanto por esclarecer e explicar, o Governo Regional foge aos esclarecimentos e “fecha-se em copas”. Porquê? Como diria o saudoso Fernando Pessa, responda quem souber! E haverá alguém naquele Governo que o saiba?

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