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Vários dirigentes republicanos estão a afastar-se de Trump

O presidente dos EUA diz estar a ser roubado, mas não apresenta provas

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Vários republicanos estão a afastar-se das tentativas de Donald Trump declarar vitória sem fundamento e parar a contagem de votos em vários Estados, deixando-o sem aliados importantes enquanto continua atrás de Joe Biden na disputa eleitoral.

O líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, um aliado de Trump que foi reeleito na terça-feira no Estado do Kentucky, disse à imprensa que "declarar que se ganhou a eleição é diferente de acabar a contagem".

O senador Marc Rubio, da Forida, que discursou recentemente num comício eleitoral de Trump, escreveu na rede social Twitter: "Demorar dias para contar votos depositados legalmente não é fraude".

E a senadora Lisa Murkowski, do Alasca, apelou a que "todos sejam pacientes", à medida que os resultados vão sendo divulgados.

"É crítico que se dê tempo aos agentes para cumprirem as suas funções e que garantamos que todos os votos depositados legalmente sejam considerados e contados", afirmou, em comunicado.

Outro republicano, membro da Câmara dos Representantes, Adam Kinzinger, eleito pelo Estado do Ilinóis, dirigiu-se diretamente a Trump. "Pare. Pare de vez", escreveu, na quarta-feira, em resposta à acusação de Trump de que os democratas estavam a tentar "roubar" a eleição.

"Os votos devem ser contados e o senhor vai ganhar ou perder", disse Kinzinger, dirigindo-se a Trump. "E os EUA. Paciência é uma virtude".

Estes comentários, críticos e públicos, de congressistas republicanos e de líderes do Partido Republicano a Trump têm sido raros, uma vez que este tem exigido, e obtido por norma, lealdade aos seus correligionários.

Muitos republicanos têm dificuldade em criticar diretamente Trump, mesmo quando consideram a sua atitude ofensiva para os seus valores ou objetivos.

As mensagens colocadas por Trump na rede social Twitter a declarar vitória e a apelar para que se "pare a contagem" foram um teste inicial à sua capacidade de manter o apoio dos republicanos quando procura desafiar o processo eleitoral nos tribunais.

Enquanto Biden está perto dos 270 votos que precisa no Colégio Eleitoral para ganhar a Casa Branca, continua pouco claro quando pode ser declarado um vencedor, depois de uma campanha longa e agreste, dominada pela pandemia do novo coronavirus e os seus efeitos sobre os norte-americanos e a economia.

Na quarta-feira, em declarações na Casa Branca, Trump, sem avançar provas, reclamou vitória e considerou "a maior fraude" na história dos EUA a continuação da contagem de votos, perante um grande aumento na participação dos eleitores.

O antigo governador de Nova Jérsia, Chris Christie, um aliado de Trump, que está a fazer análise política para a televisão ABC News, disse que não havia bases para o argumento de Trump. "Todos os votos têm de ser contados", acentuou.

Christie classificou o ataque à integridade da eleição como "uma má decisão estratégica" e "uma má decisão política, que não é a que se espera de alguém que tem a posição que ele tem".

O governador do Ohio, Mike DeWine, disse na quarta-feira, na Fox News, que, apesar de apoiar Trump, "se isto acabar por ser Biden, todos vão aceitar isso".

Já o governador do Maryland, Larry Hogan, classificou os comentários de Trump como "ultrajantes".

O senador Rob Portman, do Ohio, acentuou que são os Estados que administram as eleições, não o governo federal. "Devemos respeitar o processo e garantir que todos os boletins de voto depositados conforme as leis dos Estados sejam contados. É tão simples quanto isso", disse Portman, em comunicado.

"É melhor para todos que se autorize os escrutinadores a fazer o seu trabalho", acrescentou o senador Mike Lee, do Utah.

Trump diz que foi 'roubado' mas não tem provas

O Presidente dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump, e recandidato ao cargo disse, na quinta-feira, que venceria facilmente as presidenciais se contabilizassem "os votos legais", advogando que está a ser 'roubado', sem apresentar, no entanto, quaisquer evidências.

"Se contarmos os votos legais vencemos facilmente, mas se contarmos os votos ilegais poderão tentar roubar-nos as eleições", disse o chefe de Estado norte-americano, em conferência de imprensa na Casa Branca, em Washington.

Trump referiu inúmeras vezes que estava a ser 'roubado' e que havia tentativas do partido democrata de adulterar a contagem dos boletins de voto para impedir a vitória republicana.

Contudo, durante o discurso Trump não apresentou quaisquer evidências que sustentassem as acusações que fez.

O Presidente dos Estados Unidos da América (EUA) terminou a conferência de imprensa e abandonou o púlpito sem intenção de responder às questões que os jornalistas estavam a tentar fazer.

Durante o discurso de pouco mais de 15 minutos, Donald Trump culpabilizou elementos democratas envolvidos na contagem dos boletins de voto por correspondência pela alegada fraude eleitoral, mas não apresentou exemplos concretos para corroborar a acusação.

"Os funcionários democratas nunca acreditaram que poderiam vencer estas eleições", acrescentou o republicano.

Trump disse que tem como objetivo "defender a integridade" do sufrágio contra o que apelidou de ser a "corrupta máquina democrata" no Michigan e Pensilvânia.

Estes estados são considerados importantíssimos, uma vez que uma vitória do candidato democrata, Joe Biden, poderá ditar o fim da corrida à Casa Branca e a derrota do atual Presidente.

De acordo com as últimas projeções de vários órgãos de comunicação social, como, por exemplo, a CNN, Biden deverá vencer no Michigan.

Trump continua a liderar na Pensilvânia, mas, nas últimas horas, a margem entre ambos diminuiu substancialmente.

O Presidente disse ainda que apoiantes dos republicanos estão a ser impedidos de verificar a integridade da contagem dos votos nos estados cujo resultado deverá pender para os democratas e onde a candidatura de Trump já ameaçou interpor ações judiciais.

A magistrada Cynthia Stephens rejeitou na quinta-feira a ação judicial interposta para suspender a contagem de votos no Michigan.

Na Geórgia, segundo a CNN, o The Guardian e o The New York Times, Trump e Biden estão separados por apenas 0,1%.

Em Wilmington, no Delaware, o candidato democrata apelou à calma até ao final da contagem dos votos.

Processos judiciais rejeitados

Os juízes na Geórgia e Michigan rejeitaram os processos judiciais apresentados pela campanha de Donald Trump, contrariando a estratégia de ataque à integridade do processo eleitoral em estados cujos resultados podem ditar a derrota do presidente nas eleições.

As decisões foram tomadas numa altura em que o candidato democrata, Joe Biden, se aproxima dos 270 votos no Colégio Eleitoral, necessários para ganhar a Casa Branca, e enquanto Donald Trump e a sua equipa se preparam para apresentar mais ações legais com base em alegadas fraudes eleitorais.

Segundo um advogado da campanha de Joe Biden, as ações judiciais sem resultados são mais uma estratégia política do que legal, noticia a agência AP.

"Quero realçar que, como propósitos, estas ações não precisam de ter sucesso. Esse não é o objetivo... É criar uma oportunidade para enviarem informações falsas sobre o que está a acontecer no processo eleitoral", atirou Bob Bauer, que acusa a campanha de Trump de "continuamente alegar irregularidades, falhas no sistema e fraude sem qualquer fundamento".

O advogado falava poucas horas antes de Donald Trump publicar na rede social Twitter: "Todos os recentes Estados reivindicados por Biden serão legalmente contestados por nós por fraude eleitoral e fraude eleitoral estatal. Muitas provas - basta verificar a comunicação social. Vamos ganhar! América First! [em português, América em primeiro lugar]".

O presidente dos Estados Unidos está habituado a processar e a ser processado.

Segundo uma análise do jornal USA Today, quer o republicano, quer as suas empresas, estiveram envolvidos em pelo menos 3.500 ações judiciais estatais e federais nas três décadas anteriores à usa presidência.

As batalhas judiciais durante as eleições presidenciais tem sido um esforço em pequena escala para examinar de forma mais próxima os funcionários eleitorais locais enquanto estes processam os boletins de voto por utilizar.

Na Geórgia, um juiz indeferiu uma ação que manifestava preocupações com 53 boletins de voto no condado de Chatham, após as autoridades eleitorais terem testemunhado que todos esses votos tinham sido recebido a tempo.

Na Pensilvânia, a campanha de Trump ganhou uma ação judicial que apelava para que os observadores do partido e das eleições se aproximassem dos trabalhadores eleitorais que estão a processar os votos por correio em Filadélfia.

Mas esta ação não afetou a contagem de votos que já estava em andamento na Pensilvânia e em outros lugares, visto que as autoridades eleitorais estão a lidar com um grande número de votos por correio, motivado pelo medo de votar presencialmente devido à pandemia.

Enquanto Joe Biden apela à calma e pede que todos os votos sejam contados, a campanha de Trump acusa os democratas de tentarem roubar a eleição, embora não haja evidências de que algo esteja a acontecer.

O diretor de campanha de Donald Trump, Bill Stepien, disse em declarações aos jornalistas na manhã de quinta-feira que "todas as noites novos votos "são misteriosamente encontrados em sacos".

O porta-voz da campanha de Trump, Jason Miller, acrescentou que mais ações legais são esperadas e terão como objetivo permitir aos oficiais de campanha o acesso aos locais onde os votos estão a ser contados.

A campanha do republicano já anunciou que irá pedir uma recontagem dos votos em Wisconson, relatando "irregularidades", sem fornecer mais detalhes.

Biden soma, de acordo com as projeções dos meios de comunicação locais, 264 delegados no Colégio Eleitoral ficando a pouco de conseguir os 270 super eleitores necessários para ganhar a Casa Branca.

De acordo com os mesmos dados, Donald Trump soma 214 delegados do Colégio Eleitoral.

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