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Vai uma milhada para gastar a “milhonada”

Vêm aí o dinheiro mas, não se ouviram os parceiros sociais, não houve qualquer tipo de negociação com os partidos da oposição

A curto/médio prazo, virão para a Região à volta de 2 biliões de Euros, ou melhor o equivalente a 2,5% (conforme a nossa população), do “bolo” para Portugal das ajudas para a recuperação das perdas causadas pelo COVID.

Ao contrário do que se passa no resto do país não foi feito um estudo por especialistas reconhecidos, para a definição de prioridades para o investimento desse dinheiro a médio/longo prazo, que tornasse a economia sustentável, que nos livrasse da dependência excessiva da Z. Franca, do turismo e da banana, sectores voláteis, que apesar de gerarem receitas consideráveis, não resistem a qualquer perturbação provocada por qualquer conjuntura. Basta que a UE “aperte” com as offshore e lá se vai o Centro de Negócios. Quanto à banana, nós sabemos que a nossa é melhor, tem mais gosto, mas custa no mercado internacional o dobro da banana dólar. Basta que uns “Visigrado” ou outros quaisquer, retirem o travão que impede a banana dólar inundar os mercados e nós vamos comer banana ao pequeno almoço, ao almoço e ao jantar, talvez até ao lanche. Quanto ao turismo, estamos a ver o “filme”.

Tivemos 45 anos de autonomia para nos desenvolvermos, para por exemplo, fazer uma “reforma agrária estrutural”, substituir a banana por outras culturas mais adequadas à nossa orografia, clima e regime fundiário, com maior valor comercial. Podíamos ter aproveitado para produzir pois a nossa primavera chega primeiro e é mais quente que a fria Europa. Podíamos ter formado de raiz uma geração de agricultores jovens com qualificação reconhecida e certificada, pensantes e tecnológicos, capazes de afrontar a mudança porque os saberes tradicionais já não bastam, é urgente preparar a substituição da atual geração de agricultores com 70 e 80 anos, que ainda assegura a maior parte da nossa produção. Podíamos, mas não o fizemos. A agricultura nunca foi, nem pode ser, nos moldes atuais uma alternativa para os jovens, isto devido ao regime microfundiário, de não haver um sistema de distribuição eficaz como alternativa aos atuais intermediários, que ficam com o lucro da produção, de não haver água. Podíamos ter incentivado um regime de desemparelhamento. Podíamos ao longo de 45 anos ter substituído o universal sistema de rega por alagamento, por outros sistemas mais adequados, de forma a que a água desse para todos os regantes. Em 45 anos, podíamos “nas calmas” ter substituído TODA a rede de distribuição de água, de forma a evitar 70% de perdas, assim sobraria água para agricultura. O GR agora exige e fala das perdas de água apenas porque perdeu a maioria das câmaras para a oposição, Albuquerque tem a lata de afirmar na televisão, onde mais uma vez aproveita a cobertura televisiva da RTP, que fazia a cobertura de uma visita a um agricultor, para sem contraditório, desferir ataques à oposição. Afirmou que os agricultores não têm água devido às perdas da rede do Funchal. O que fez ele quando foi Presidente da Câmara? E os outros PPD’s antes dele? Durante mais de 40 anos o PPD foi hegemónico tanto no GR como nas câmaras, recebeu da EU milhares de milhões. Não deixo de constatar que a atual câmara em seis anos já substituiu 150Km de condutas. O PPD pura e simplesmente optou por não gastar dinheiro em redes de água que ficam enterradas e não se vêm, preferiu gastar o dinheiro em betão o que permitiu fazer quatro visitas a cada obra e fazer Show-off de cada vez, ao mesmo tempo que a economia dos amigos do betão e do alcatrão florescia. Sem a solução para destes e doutros problemas de base, no futuro, não iremos a lado nenhum.

Vêm aí o dinheiro mas, não se ouviram os parceiros sociais, não houve qualquer tipo de negociação com os partidos da oposição, ao contrário do que se passa no continente não há (que eu saiba) um PRN Regional (Plano de Recuperação e Resiliência Nacional). Por cá Albuquerque tudo sabe e pronto. Em cima do joelho na 25ª hora, com a “prata da casa”, repescando ideias e promessas vagas e antigas, renovadas em cada eleição, outras que tendo sido apresentadas pela oposição foram rejeitadas. Vai “desenrascar” um plano para “encher o olho” à UE, que pareça adequado e que justifique as verbas. Devido à autonomia a RAM, vai receber o seu quinhão do “bolo nacional”. Como de costume “empocha” o que lhe couber e de imediato começará a exigir ser incluído mais uma vez no todo nacional (ver DN-M 02/10, Pg. 18) depois logo se vê, como de costume “navegaremos” à vista, ao sabor dos interesses instalados e do “achismo” dos “iluminados” que nos governam. Há sempre uma estrada das Ginjas para alcatroar, uma Pontinha para aumentar, umas estradas e quem sabe, mais uns pavilhões, campos de futebol e piscinas, talvez até uns heliportos. Não há a mínima razão para acreditar que terão uma aplicação e gestão mais rigorosa que as dos milhares de milhões que vieram até agora da UE. Podem até criar uma comissão de acompanhamento, podem para isso, convidar o J. Ramos, o AFA, Os Sousas, etc. Como possivelmente serão eles os principais beneficiados, já agora fazem o serviço completo e controlam também a aplicação dos fundos. Tudo leva a crer, que depois destas ajudas, não haverá muitas outras. Como iremos viver sem a europeia muleta, se a nossa economia não é sólida e sustentável, apesar de 45 anos passados e milhares de milhões que entraram? Temos os piores indicadores do País. Seria extremamente importante fazer um estudo sério, por outra universidade que não a UMa, de todos montantes vindos da EU, da forma como forma que foram gastos e da influência que tiveram no desenvolvimento Regional, para não repetirmos os mesmos erros. Se perdermos esta oportunidade, não haverá outra.

Para tornar tudo mais transparente, o PPD+CDS podem, ainda, nomear uma comissão parlamentar, daquelas em que o PPD nomeia o presidente e o redator e também escolhe as testemunhas a serem ouvidas, ou seja, faz a festa, dá os foguetes e apanha as canas, do tipo da comissão dos “inertes”, em que à partida, tem foi decidido o resultado.

Mais uma vez Albuquerque usa a técnica do carteirista, que ao sentir-se ameaçado, começa a correr e a gritar “agarra que é ladrão”, desviando a atenção de si e pondo a culpa num outro, indeterminado. Como não apresentou qualquer proposta consistente de PRN Regional, o PPD-M, acusa Lisboa de não incluir a Madeira no plano nacional.

Considero que todos os recursos que “venham” para a Madeira, mesmo que quando malgastos, são bons, pois sempre lançam algum dinheiro na economia. Não podemos, no entanto, fazer exigência absurdas. Nas nossas reivindicações tem de haver justiça, honestidade, ética e lisura, para além dos interesses. Custa-me constatar que, apesar de todos os impostos gerados na Madeira serem receita da Região e da Madeira ter o seu quinhão dos recursos disponibilizados pela UE para o País, o GR exija que o país volte a comparticipar outra vez nos custos e despesas regionais. Albuquerque que me diga como explicar ao Sr. Manuel de Freixo de Espada à Cinta que terá com os seus impostos de pagar o alcatrão da estrada das Ginjas.

Com ou sem razão, o GR não pede, não dialoga com Lisboa, quando não consegue o que julga ter direito, faz chantagem, insulta, faz birra e berra, quando lá governa o PS. Aliás, com exceção da pandemia, acho a postura do PPD-M, cada vez mais parecida com a de Trump. Quando apanha um Cavaco ou um P. Coelho, baixa a bola, “mete o rabo entre as pernas” e não leva nada. Por cá, faz rigorosamente o que quer, trata a oposição “abaixo de cachorro”, sem ouvir nada nem ninguém (onde é que já ouvimos falar de DDT’s). Por sistema, as propostas das oposições são liminarmente recusadas, não pelo seu mérito, mas pelo simples facto de serem da oposição.

Cada vez estou mais convencido que com comportamentos e atitudes como o PPD-M assume para com o Governo da República, não vamos a lugar nenhum, seja o 1º ministro Costa, Rio ou qualquer outro.

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