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'Só eu escapei' é uma peça profética e "de alto risco" em estreia no Teatro Aberto

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Um texto "profético" num espetáculo "de alto risco" é como João Lourenço define a peça "Só eu escapei", da dramaturga britânica Caryl Churchill, a estrear-se no sábado, no Teatro Aberto, em Lisboa, sob a sua direção.

A estreia de "Só eu escapei" esteve prevista para maio último, mas acabou por ser adiada devido à pandemia de covid-19, e é, nas palavras do diretor artístico do Teatro Aberto, um espetáculo "de alto risco, quanto mais não seja pela idade", já que a maioria da equipa que mobiliza "tem mais de 70 anos".

Com versão de João Lourenço e Vera San Payo de Lemos - que também assina a dramaturgia - trata-se de um espetáculo que "reflete a inteligência, sagacidade e capacidade que a maior autora britânica da atualidade teve de antever a angústia dos dias estranhos que estamos a viver", acrescentou João Lourenço, que também assina o cenário.

Catarina Avelar, Lídia Franco -- pela primeira vez dirigida por João Lourenço -, Márcia Breia e Maria Emília Correia são "as quatro grandes atrizes portuguesas cujas capacidades e currículos profissionais" representam "grande parte da história do teatro português do século XX", considerou João Lourenço.

Por isso, o diretor artístico do Teatro Aberto insistiu em dar ênfase "à resiliência, vontade, ao empenho e ao profissionalismo demonstrados pelas quatro atrizes", desde a preparação da peça, porque, apesar de ter chegado a ser ensaiada a partir da casa de cada um, nos últimos tempos, com a aproximação da estreia, impôs-se a necessidade de haver deslocações diárias ao Teatro.

"Uma aposta e um risco diário quase às cegas, pois devido à pandemia do novo coronavírus nunca sabíamos se conseguiríamos estreá-la", frisou. "Mas elas, enquanto grandes atrizes que são, embora com carreiras em registos diferentes, mostraram sempre uma força e capacidade de resistência e insistência inigualáveis", notou o encenador.

Escrita "antes de Donald Trump e do 'pateta' brasileiro se tornarem presidentes", "Só eu escapei" questiona o futuro da vida na terra, face "aos delírios de uma evolução que deixou de ter em conta a dimensão humana e a preservação das espécies", referiu.

A ação gira em torno de quatro mulheres "irónicas, engraçadas, inteligentes e, principalmente, duras", que se encontram no jardim de uma casa, a conversar.

Não se trata, todavia, de uma peça "sombria". Até porque as atrizes que a interpretam "têm um talento especial e tão específico", que João Lourenço garantiu à Lusa não encontrar, "hoje em dia, outras, em Portugal, que pudessem fazer este espetáculo com estas características".

As quatro atrizes "vão tomando chá ao mesmo tempo que vão denunciando a violência física e psicológica dos tempos que correm", num mundo "em sobressalto diário e em que, pela primeira vez, também o teatro se encontra ameaçado, na plateia e no palco", concluiu.

"Só eu escapei", título que a dramaturga britânica foi buscar à expressão "Só eu é que escapei para te trazer a nova", presente no "Livro de Job" e em "Moby Dick", vai estar em cena até 28 de fevereiro de 2021 na sala Azul do Teatro Aberto.

A situação de confinamento parcial a que estão sujeitos 121 concelhos, a partir de quarta-feira, na sequência de uma Resolução do Conselho de Ministros publicada na segunda-feira, em Diário da República, fez com que as sessões previstas para as 21:30 fossem antecipadas para as 19:00, disse à Lusa fonte da direção daquele teatro.

Com figurinos de Ana Paula Rocha e vídeo de João Lourenço/Temper Creative Agency, o espetáculo tem assim sessões de quarta-feira a sábado, às 19:00, e, ao domingo, às 16:00.

Esta é a terceira peça da dramaturga britânica que o Teatro Aberto põe em cena. "Top Girls", uma encenação de Fernanda Lapa estreada em 1993, foi a primeira, seguindo-se, vinte e um ano depois, "Amor e informação", encenada por João Lourenço.

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