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Desvendando acordos “secretos”

Alguns dos militantes mais ativos do Chega e do Iniciativa Liberal já foram militantes do PSD-Madeira

Os resultados das eleições nos Açores e as negociatas que se seguiram trouxeram “certezas” que alguns de nós já desconfiávamos. O tempo dá-nos sempre as respostas. Precisamos apenas de estar atentos.

Em julho do ano passado, neste espaço de opinião, alertei a todos que para bem votar, precisávamos compreender como se transformam os votos em número de deputados. É a maioria de deputados que determina quem governa.

Nas eleições regionais do ano passado na Madeira, os resultados eleitorais obrigaram o PSD a negociar com o CDS/PP para poder governar, uma vez que precisava garantir uma maioria de deputados no parlamento.

Na sequência das negociações forçadas entre o PSD e o CDS/PP, tornou-se evidente que afinal havia um acordo “pré-nupcial” entre estes 2 partidos antes das eleições, como tantas vezes tantos alertaram.

Os resultados eleitorais na Região Autónoma dos Açores, de 25 de outubro último, desvendaram mais alguns “acordos pré-nupciais” entre o PSD e outros pequenos partidos.

Para começar, como já alertei, nem sempre quem tem mais votos é quem governa. Reparem, o PS-Açores obteve 40.701 votos e o PSD-Açores 35.091 votos. No entanto, quem governará os Açores nos próximos 4 anos é o PSD-Açores, juntamente com o CDS/PP, o PPM, o Chega e o Iniciativa Liberal.

Desde as eleições do ano passado que se comentava à boca pequena que o Chega e a Iniciativa Liberal visavam ajudar o PSD a governar, caso houvesse necessidade. Falava-se também no Aliança, mas mérito seja dado a Santana Lopes por ter falado a verdade e não ter enganado os seus eleitores.

Estes acordos devem fazer-nos pensar o que está por detrás de cada um dos partidos que nos pede o voto e qual a ideologia que representam.

Este ano já fomos confrontados com o “namoro político” entre Miguel Albuquerque e André Ventura do Chega no apoio à sua candidatura presidencial, ficando na dúvida quem afinal seria o candidato - Miguel Albuquerque ou André Ventura? Ainda acreditei que seria delírio regional, mas após este acordo para os Açores com a bênção de Rui Rio, Presidente do PSD, já não acredito que tenha sido mera dialética política.

Tudo tem consequências. Está o PSD a vender a alma ao diabo para poder chegar ao poder? São estas agora as linhas orientadoras do PSD a nível nacional? O acordo para os Açores foi estabelecido em Lisboa. Da mesma forma, que o acordo para a Madeira entre o PSD-Madeira e o CDS/PP teve “mão pesada” de Lisboa. Ou muito me engano, ou Rui Rio arrisca-se a perder o resto do cabelo que ainda tem. Poder a todo o custo? Ganância a mais é má conselheira.

Para bem decidir em quem votar, precisamos de ir formando a nossa opinião e analisando o que se passa à nossa volta para que a nossa decisão seja a mais ponderada na hora certa. É isto que queremos? Em quem vamos votar nas próximas eleições?

A base de qualquer democracia é respeitar a opinião dos outros e ter a liberdade para expressar a sua opinião e de mudar de opinião quando achamos que devemos fazê-lo. Os resultados estão aí e agora só nos resta aceitar.

Todavia, quero realçar que 54,58% da população açoriana não foi votar, ou seja, 124.993 pessoas. Mais de metade da população. Porquê? À conta da pandemia? Porque pensaram que estava garantida a eleição do PS-Açores? Por completa desilusão com o sistema político? Imaginem a diferença que poderia fazer se mais pessoas fossem votar. Pensem nisto quando decidirem não ir votar.

Pessoalmente devo dizer que sou contra radicalismos e obsessões, pois não nos permitem evoluir e tais atitudes são o pior que nos pode acontecer até na nossa evolução como seres humanos.

Alguns dos militantes mais ativos do Chega e do Iniciativa Liberal já foram militantes do PSD-Madeira e foi a sua desilusão com a orientação dada ao partido que lhes fizeram bater com a porta e aderir a outros projetos políticos com o sonho de fazer algo pela nossa terra. Acho que chegou a hora de pensarem em todos estes acordos. É também hora dos seus votantes pensarem se é isto que esperavam destes partidos.

Não é fácil ter-se opinião nesta terra e, muito menos, fazer oposição. O meu respeito por todos os que estão na política por convicção e não pela conquista do poder a todo o custo.

Um respeito que já não nutro por aqueles que rastejam por migalhas, que se vergam a qualquer ordem, vendem à alma ao diabo para atingir estatuto social, poder e riqueza e até têm medo de serem vistos a falar com quem pensa diferente.

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