Várzea Park foi premiado por Alberto João Jardim?
Envolvido em novas polémicas por falhas prolongadas no fornecimento de água, será verdade que o polémico edifício foi galardoado pelo antigo presidente do Governo Regional?
Um comentário publicado recentemente no dnoticias.pt relançou o debate em torno do Edifício Várzea Park, situado no Caminho do Amparo, em São Martinho, Funchal. “E não esquecer este prédio foi galardoado por Alberto João como o melhor da arquitectura no ano de inauguração”, escreveu um leitor. Outro utilizador, numa das páginas do DIÁRIO no Facebook, reagiu também com ironia a uma das mais recentes polémicas: “O que foi feito com o prémio?”.
Água correu nas paredes da garagem do Várzea Park esta madrugada
Residentes afirmam que tentaram contactar o condomínio e o piquete, mas não obtiveram resposta
Andreia Correia , 23 Agosto 2025 - 10:51
Mas será que o empreendimento, tantas vezes nas notícias por razões menos positivas, chegou alguma vez a ser distinguido oficialmente por mérito arquitectónico?
O Várzea Park foi inaugurado em 2007 e é, até hoje, o maior complexo habitacional privado da Região, com 271 fogos. Promovido pela empresa Imopro, S.A. e construído pela Sótrabalho, S.A., o projecto contou com a coordenação dos arquitectos Carla Baptista e Freddy Ferreira César. Apesar da assinatura de profissionais reconhecidos, não há qualquer registo de que o edifício tenha recebido prémios oficiais de arquitectura, nem regionais nem nacionais.
Uma pesquisa em arquivos do Diário de Notícias da Madeira e de outros órgãos de comunicação social não encontrou referência a distinções atribuídas ao Várzea Park. O edifício não consta entre os galardoados no Prémio de Arquitectura da Madeira e Porto Santo (PAMPS), a principal distinção regional nesta área. Também não existem declarações públicas de Alberto João Jardim que confirmem o alegado prémio referido pelo leitor.
Se a inauguração passou relativamente discreta, os anos seguintes trouxeram ao Várzea Park uma notoriedade indesejada, associada a conflitos de gestão e problemas técnicos que afectaram o quotidiano dos moradores.
Em Setembro de 2016, o Funchal Notícias noticiava: “Apartamentos Várzea Park em ruptura com má gestão do condomínio, credores à perna e elevadores bloqueados”, revelando que cerca de 25 elevadores tinham ficado fora de serviço devido a dívidas de 80 mil euros acumuladas pela administração, resultando na penhora dos equipamentos.
Três anos depois, em Setembro de 2019, o mesmo jornal dava conta de uma “guerra” entre moradores: “‘Guerra’ de moradores no edifício Várzea Park, associação acusada de ‘travar’ trabalho da empresa de condomínio”. Os residentes acusavam a recém-criada associação de dificultar a gestão e denunciavam irregularidades e abandono da manutenção.
Já em Maio de 2024, o dnoticias.pt relatava uma “Suspeita de incêndio em apartamento mobiliza bombeiros”, um alerta que, embora sem consequências graves, voltou a expor fragilidades na resposta a emergências.
O ano de 2025 revelou-se particularmente conturbado. A partir de Abril, sucederam-se falhas prolongadas no fornecimento de água. A 18 de Abril, dois títulos davam conta da crise: “Câmara do Funchal aponta avaria interna para falta de água no ‘Várzea Park’” e “Moradores do edifício ‘Várzea Park’ sem água ‘há horas’”. No dia seguinte, 19 de Abril, lia-se: “Falta de água no Várzea Park mobiliza Bombeiros para encher tanque”. E a 20 de Abril, repetia-se o cenário: “Várzea Park com problemas no fornecimento de água desde sexta-feira”.
Em Agosto, nova vaga de notícias expôs a escalada da crise. O dnoticias.pt relatou episódios de vandalismo, suspeitas de sabotagem e até ameaças de morte ao administrador. Nesse contexto, surgiram notícias: “Moradores ‘Várzea Park’ passaram a noite sem água” (20 de Agosto) e “Água correu nas paredes da garagem do Várzea Park esta madrugada” (23 de Agosto), denunciando inundações nas garagens enquanto persistia a falta de água nas habitações.
Em várias ocasiões, os Bombeiros Sapadores do Funchal tiveram de encher os depósitos do edifício para repor temporariamente o abastecimento. A Câmara Municipal esclareceu, contudo, que as avarias eram internas e da exclusiva responsabilidade do condomínio.
O balanço de quase duas décadas revela, assim, um edifício mais associado a polémicas e problemas de gestão do que a qualquer reconhecimento de mérito arquitectónico.
Concluímos assim que não há qualquer registo, seja em concursos, arquivos de imprensa ou declarações oficiais, que confirme que o Várzea Park tenha sido distinguido como ‘o melhor da arquitectura no ano de inauguração’, nem que tal galardão tenha sido atribuído por Alberto João Jardim.