O povo e as eleições

Provavelmente, o primeiro ato democrático conhecido pela humanidade, remonta há milhares de anos, quando Poncio Pilatos entregou ao povo a decisão de escolher quem havia de libertar e condenar à morte, se Jesus ou Barrabás.

O povo decidiu que devia libertar o ladrão Barrabás e condenar à morte Jesus.

Por aqui se vê que nem sempre as decisões do povo são as mais corretas, mais coerentes, mais conscientes, mais assertivas.

E ao longo dos tempos temos observado isso, sobretudo em atos eleitorais, quando o povo é chamado para tomar a decisão de escolher quem vai governar a sua autarquia, o seu concelho, e, ainda mais grave, os destinos do seu País.

- No passado domingo tivemos eleições, mais uma vez o povo foi chamado para decidir – com o seu voto - quem governaria Portugal nos próximos quatro anos.

Muita gente candidatou-se, mas a possibilidade de vencer estava ao alcance apenas de duas únicas personalidades, segundo rezavam as várias sondagens realizadas.

É bom que se esclareça que nenhuma delas era Jesus ou Barrabás – não há aqui intenção de confundir ou comparar, como é lógico e racional – mas o que podemos e devemos referir é que esta luta pela vitória nas eleições era dirimida entre uma personalidade de muitas “más provas” dadas e outra “sem provas dadas” más ou boas.

E aqui é que surgia a intervenção de um povo que tinha de estar muito lúcido, informado, responsável, pois os votos colocados nas urnas inconscientemente, advindos de teorias idiotas, embalados por demagogias absurdas e partidarismos doentios, promessas vãs e fantasiosas, nunca levam a um destino certo, à possibilidade de escolher aqueles que nos garantem uma governação séria, equilibrada de que tanto o povo almeja e o País precisa.

Há quase 50 anos que andamos a votar e o País continua na cauda da Europa, está melhor do que há 50 anos, é verdade, mas longe do Portugal minimamente desejado e que por obrigação deveria estar. Não podemos esquecer os apoios incomensuráveis - provavelmente, nunca vistos na história do País - que tem recebido de uma Europa não só solidária como, diríamos, “benemérita”.

E isto deve-se, infelizmente, às más governações que temos tido, muitas vezes pelas tristes escolhas que fizemos, outras vezes, já por escolha dos políticos em quem em demos o voto.

Há países que, saíram de ditaduras muito mais ferozes do que a que tínhamos em 1974, (não há ditaduras boas, mas existem umas piores que outras) não tiveram nenhum 25 de abril, entraram posteriormente na União Europeia e o nível de vida do seu povo é superior ao nosso.

Claro que, há muito boa gente que só vê maravilhas nesta dita democracia, mas não nos devemos admirar, pois no “fascismo” também havia quem o defendesse, quem o apoiava, embora não sendo as mesmas pessoas de hoje, eram mais ou menos pelas mesmas razões.

Para “ganhar” (o termo certo é outro, mas por respeito a quem nos lê não o aplicamos) não há esquerda, nem direita, assim tem-nos dito os últimos 40 e tantos anos.

- Quanto ao resultado das últimas eleições é cedo para comentar, se bem que, nos pareça não ser fácil a futura governação, daí não haver condições para emendar os erros do passado, criar um Portugal novo, diferente, como seria expetável e, indubitavelmente, necessário e desejável.

Mas o povo assim o quis e como a sua vontade é soberana só nos compete respeitar.

Juvenal Pereira