Análise

Os equívocos de Sérgio Gonçalves

Eleger menos deputados do que dispõe actualmente é uma derrota política

A sondagem da Aximage para o DIÁRIO e TSF-M vem antes de mais revelar que os eleitores madeirenses não encontram uma alternativa à actual coligação que lidera os destinos da Região. A sete meses das eleições, a actual maioria consegue um reforço que a coloca num patamar de conforto e com boas perspectivas para o próximo ‘combate’. 50% dos inquiridos admitem que vão votar no PSD/CDS, que deixa a 35 pontos de distância o seu principal adversário, o PS. A perda contínua e acentuada que o Partido Socialista está a sofrer deveria fazer soar todas as campainhas junto da actual direcção. Até porque o JPP surge perigosamente no seu encalço, a menos de 3 pontos percentuais de distância. Face ao resultado obtido em 2019, com Paulo Cafôfo no comando, o PS perde, agora, mais de 20 pontos percentuais, o que é um verdadeiro desastre para a liderança de Sérgio Gonçalves, que corre o risco de conseguir eleger menos de 10 deputados (foram eleitos 19 há 4 anos). O líder socialista faz mal em desvalorizar o estudo de opinião. A se confirmar nas urnas estes resultados, não terá outra alternativa a não ser abandonar o cargo, pois estes serão a prova da ineficácia da sua política e da mensagem que o PS andou a difundir. Eleger menos deputados do que dispõe actualmente é uma derrota política com maior impacto para Sérgio Gonçalves, uma vez que Miguel Albuquerque já está no poder desde 2015. Oito anos geram muito mais desgaste do que quatro, que foi quando Cafôfo disputou as eleições, em 2019. O actual chefe socialista tem evidenciado um nervosismo e alheamento crescentes, factores que já o levaram a queixar-se publicamente de censura na comunicação social. Sérgio Gonçalves foi leviano na crítica. Falo no que ao DIÁRIO diz respeito. Para além de integrar a lista de colaboradores de opinião, tudo o que é veiculado pelo partido e que seja de interesse público tem eco nas nossas páginas, como facilmente se comprova. Aliás, a parte mais risível dessa declaração encaixa-se na perfeição na cena patética que o seu camarada Victor Freitas, também ele ex-líder que conduziu o partido a um dos piores resultados da sua história, protagonizou numas das sessões da comissão de inquérito ao alegado favorecimento do Governo Regional a grupos económicos, na passada terça-feira, onde afirmou que este DIÁRIO não tinha publicado nada sobre o tema que marcou a agenda do dia. A trapaça foi de imediato desfeita no ‘fact check’ que publicámos às 17 horas desse mesmo dia, com os muitos artigos publicados sobre o tema e que o próprio PS partilhou nas suas redes sociais. Estes dois episódios são paradigmáticos e põem a nu a desorientação reinante no maior partido da oposição. Aliás, uma das conclusões que podemos retirar da comissão de inquérito é que o PS não está a conseguir alcançar os objectivos que desejava quando a impôs potestativamente. Sérgio Gonçalves, de acordo com os dados da sondagem que publicamos na quarta e na quinta-feira, é indiferente para 25% dos inquiridos, que não quiseram qualificar o seu desempenho à frente do PS-M. 20% deram-lhe nota negativa. Na contabilidade final, surge ao lado de Rui Barreto, do CDS, e está 13 pontos atrás de Filipe Sousa, presidente do JPP. Todos estes sinais têm de ser valorizados. Ou acredita mesmo que a população vota condicionada na Região? A população já provou que deposita o voto em quem apresenta o projecto mais pujante e mais consistente. O próprio PS esteve dois mandatos à frente do Funchal e governa outras autarquias. A culpa, a existir, não é da população nem dos media. É dos políticos que arranjam argumentos fúteis para justificar a falta de rasgo criativo e agenda mobilizadora. PSD e CDS agradecem a boleia gratuita proporcionada por Sérgio Gonçalves.