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“Fact-checking”: mais uma forma de combater a desinformação

Em termos comunicacionais, a era digital mergulhou-nos num contexto específico, que obrigou as empresas da área a uma adaptação não só da sua forma de negócio como da forma de interagir com o público. Atualmente, com a crise informativa que vivemos, com a desinformação a ser uma ameaça constante, em prol da verdade, importa – mais do que nunca – continuar a defender os valores éticos e deontológicos fundamentais, tendo em vista a transparência e a autorregulação, essenciais para a credibilidade.

É nesse contexto que o “fact-checking”, ou seja, a verificação de conteúdos, se revela essencial no combate à desinformação, aliado à literacia mediática e à educomunicação, assim como à aplicação de legislação específica.

No jornalismo, esta técnica de deteção de imprecisões e dados falsos, sempre existira, pois, a publicação de conteúdos não pode ser feita sem a natural validação. Mais recentemente, o combate à disseminação de informação falsa online tem despertado a atenção sobre o potencial das tecnologias de verificação, surgindo inúmeras plataformas um pouco por todo o Mundo.

Contudo, numa altura em que o público consome muito mais do que as notícias publicadas pelos órgãos de comunicação social, é importante – embora reconheça que é um pouco idílico – validar também os conteúdos desinformativos que circulam massivamente sobretudo através das redes sociais, tornando-se virais e atingindo os seus objetivos em frações de segundos, com consequências indesejadas e afetando a reputação das marcas ou das pessoas.

Parece-me também essencial a utilização de eficientes mecanismos que consigam verificar rigorosamente conteúdos publicitários publicados nas mais diversas plataformas online, pois não pode valer tudo quando as organizações querem atingir os seus alvos, mesmo que isso implique contornar algumas regras e normas elementares.

É que, entretanto, as “fake news” com fins publicitários se vão disseminando em forma de publicidade enganosa, seja através de anúncios patrocinados, seja através de passatempos, concursos ou outras artimanhas.

Por outro lado, os “fake-influencers”, uma vez que muitas vezes priorizam a vertente económica acima de tudo, podem mesmo servir-se do seu poder enquanto líderes de opinião para influenciar na compra, não transmitindo, muitas vezes, a verdade sobre os produtos ou serviços que promovem.

E tudo isto acontece porque estamos na era da pós-verdade, onde uma mentira, quando é apresentada como verdade e repetida muitas vezes, pode mesmo passar a ser vista como verdade.

Como tal, não podemos desvirtuar a importância da verdade, sendo essencial validar os conteúdos publicados nas mais diversas formas, através de “fact-checking”.

Urge, então, apostar em eficientes e verdadeiramente abrangentes plataformas de verificação de conteúdos. Contudo, é evidente que os recursos são escassos e seria utópico pensar na viabilidade de um projeto ousado, que também não deixasse margem para dúvidas quanto às escolhas no que se refere aos conteúdos verificados, em detrimento de outros.

No entanto, é um facto que, recorrendo à inteligência artificial, é possível fazer deteções de forma automática, embora com limitações, obviamente. Portanto, na minha opinião, se houvesse mais empenho e talvez mais interesse, não seria difícil reduzir a quantidade de conteúdos desinformativos que circulam online.

P.S.: Uma vez que estou a tentar especializar-me na matéria (o meu doutoramento pretende abordar a temática da desinformação e das “fake news”), foi com agrado que constatei que este órgão de comunicação passou a ter na sua sessão de “fact-check” uma verificação diária, catalogando o conteúdo verificado como ‘verdadeiro’, ‘falso’ ou ‘impreciso’. Bem-haja!