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Marcelo afirma não ter indicação de que Costa pensa sair a meio da legislatura

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O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou hoje não ter indicação de que António Costa pensa deixar o cargo de primeiro-ministro a meio da legislatura e negou qualquer "irritante" entre os dois.

Interrogado pelos jornalistas, no Palácio de Belém, em Lisboa, se o aviso que fez a António Costa de que será difícil substituí-lo a meio da legislatura se deveu a alguma indicação de que o primeiro-ministro tem planos para sair a meio do mandato, o chefe de Estado respondeu: "Não".

"Não, não, não não. É porque é uma evidência. Eu estive ali a dizer as evidências do voto dos portugueses: votaram numa maioria absoluta, poderiam ter votado noutras escolhas, votaram na estabilidade e votaram para que essa estabilidade pudesse resolver os problemas do país", acrescentou.

Questionado novamente se algum dado o leva a crer que António Costa pode vir a sair a meio da legislatura, Marcelo Rebelo de Sousa retorquiu: "Já respondi. Não tenho nada mais a acrescentar".

Segundo o Presidente da República, "nunca houve irritante nenhum" com o primeiro-ministro, "não há irritantes", e a relação entre os dois não será prejudicada pela intervenção que fez na quarta-feira na cerimónia de posse do novo Governo.

Face à pergunta se gostaria de ter ouvido do primeiro-ministro a garantia de que quer cumprir o mandato até ao fim, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que "decorreu do que ele disse a predisposição de olhar para a legislatura, falou até ao fim da legislatura, legislatura parlamentar".

No seu entender, António Costa "assumiu que está a avançar para uma empreitada, chamemos-lhe assim, que é uma empreitada de quatro anos e meio".

Mais à frente, a propósito da escolha de João Gomes Cravinho para ministro dos Negócios Estrangeiros, o chefe de Estado assinalou que o primeiro-ministro "reforça o seu poder em política externa" neste terceiro executivo, passando a ter na sua dependência direta o secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Tiago Antunes, seu ex-secretário de Estado Adjunto.

Quanto à relação que terá com Gomes Cravinho, Marcelo Rebelo de Sousa argumentou que "na política externa não europeia há um relacionamento permanente, constante", que "é sempre fluido", e assegurou "cooperação institucional, solidariedade institucional".

Ainda sobre a cerimónia de posse, o Presidente da República referiu que "cada um fez o seu discurso autonomamente", mas que verificou ao ouvir o primeiro-ministro que "repisava várias ideias" da sua intervenção.

"Quanto à guerra, quanto a algumas das prioridades mais imediatas e outras que são mais a prazo, quanto à ideia de que a maioria absoluta não é poder absoluto, quanto à garantia que é a existência do Presidente da República e o seu papel em termos de cooperação e solidariedade institucional com o Governo. E até no dizer: é o mesmo Presidente, é o mesmo primeiro-ministro, estamos cá para a legislatura", apontou.

O chefe de Estado realçou que o seu segundo e último mandato termina em março de 2026 e a legislatura entre setembro e outubro do mesmo ano, e concluiu: "Temos aqui à nossa frente um período muito longo de quase quatro anos de colaboração institucional como houve no passado".

No seu discurso na quarta-feira, António Costa disse que "a maioria absoluta corresponde a uma responsabilidade absoluta para quem governa", acrescentando: "Os portugueses resolveram nas eleições a crise política e garantiram estabilidade até outubro de 2026. Estabilidade não é sinónimo de imobilismo, é sim, exigência de ambição e oportunidade de concretização. Temos a obrigação de aproveitar a estabilidade para antecipar a incerteza, enfrentando corajosamente os desafios estruturantes com que nos confrontamos".