Crónicas

Novo Governo, os nomes do costume

Ou seja, ao fazermos as perguntas erradas nunca conseguiremos obter as respostas que precisamos para o futuro de Portugal e dos portugueses

Inicia-se um novo ciclo político em Portugal, com um novo governo do PS suportado por uma maioria absoluta que altera de forma substantiva a relação entre os diversos protagonistas, o que dará ( ou daria ) à partida uma oportunidade a um ímpeto mais reformista e arrojado. Começa com uma polémica entre o PM e o Presidente da Republica pela divulgação dos nomes através da comunicação social o que não é definitivamente um bom sinal para o país. Ressalta à vista o centrar do discurso na obtenção de um novo executivo “mais enxuto” e paritário o que não me parece ser um bom principio. Mais importante do que saber o número de pessoas que lideram os novos ministérios ou qual o seu género deveria ser a importância das pastas, a capacidade de sermos mais profundos em temas fulcrais para o desenvolvimento e o equilíbrio da sociedade e a competência dos nomes apresentados. Até porque ao numero de novos ministérios teremos que somar uma quantidade imensa de adjuntos, operacionais ou chefes de gabinete e essas nomeações e contratações ainda não são públicas.

Ou seja, ao fazermos as perguntas erradas nunca conseguiremos obter as respostas que precisamos para o futuro de Portugal e dos portugueses. Antes de irmos aos nomes deixaria duas ou três notas sobre a orgânica e a estrutura dos novos ministérios. Parece-me profundamente errado encaixotarmos o Turismo numa simples secretaria de Estado onde dividirá atenções com o Comércio e os Serviços o que mostra bem a importância que é dada ao tema. Não deixo de ver com curiosidade a passagem do Mar para a Economia e se esta terá assim um papel central no futuro de um país “à beira mar plantado” e que tarda em lhe dar a devida importância uma vez que com Ministério próprio pouco trouxe de novo. Cai a Transição Digital e passa para segundo plano a Modernização Administrativa do Estado como se nesta área tudo estivesse a correr sobre rodas e não estivéssemos nós substancialmente atrasados em relação a tantos países europeus, mas cai também a importância dada à valorização do interior e da descentralização. Parece que parte do país é assim dado como definitivamente perdido. Estou também expectante, dada a relevância atual da Energia, em ver como funcionará a mesma, fundida com o Ambiente. Não consigo ainda entender como se promovem os Assuntos Parlamentares a Ministério, quando o que se pretende é um executivo mais curto e quando temos áreas tão pungentes a merecer uma atenção especial.

Em relação aos nomes do novo executivo, porque a visão estratégica e a capacidade dos mesmos na prossecução dos objectivos são tão importantes como as pastas em si, importa referir em primeiro lugar a minha desilusão por ver um governo mais talhado para o combate político do que preocupado em desafiar os grandes quadros que temos na sociedade civil para o tal impulso na produção de riqueza tão necessário depois de uma pandemia, das consequências ainda por determinar de uma guerra, da inflação e de tantos outros dados pouco animadores que nos vão chegando. Um Governo que parece passar da dinastia das famílias e dos amigos para a corrida mais louca do mundo no combate à sucessão de António Costa. Estão lá todos para mostrar o que valem. Dos que sairam e mesmo com alguns problemas na parte final do mandato parece-me que vamos sentir falta de um Siza Vieira desempoeirado e de pensamento orientado para o desenvolvimento bem como de Alexandra Leitão de quem mantenho uma boa opinião pese a dificuldade da pasta. Sai Francisca Van Dunen que pouco ou nada acrescentou na Justiça, Graça Fonseca que sempre pareceu demasiado elitista e sectária para a Cultura e João Matos Fernandes envolto em diversas polémicas e que tinha há muito o caminho traçado.

Muda de pasta João Cravinho de quem espero mais e melhor. Aliás para a pasta dos Negócios Estrangeiros esperava na realidade mais e melhor embora parte da responsabilidade passe agora para o PM. A manutenção de Francisco André como Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros parece-me um excelente indicador. Embora não me pareça que Duarte Cordeiro seja um especialista em matéria do Ambiente é à partida um bom nome tendo em conta a sua juventude e influência no aparelho assim como o de Ana Catarina Mendes de quem tenho boa opinião pela capacidade de dialogo e pela garra que demonstrou como líder parlamentar.

Fernando Medina nas Finanças num momento em que mais do que apertar o cinto e de cativações precisamos de investimento e desenvolvimento mas mantendo as contas rigorosas é no mínimo um risco. Já uma aposta segura parece o nome de Helena Carreiras para a Defesa uma pasta que assume neste momento particular importância. Já não tenho a mesma opinião de António Costa e Silva que me parece mais um pensador e teórico numa Economia que se quer de mangas arregaçadas e de visão futura. Quanto aos nomes que me deixam mais apreensivo Catarina Sarmento e Castro na Justiça por não me parecer ter a força que uma pasta desta envergadura exige num meio muito condicionado, Maria do Céu Antunes por continuar numa Agricultura por quem pouco ou nada fez tendo granjeado pouca simpatia e Marta Temido que aparece profundamente desgastada de um processo pandémico altamente penoso e que terá agora que mostrar o que vale num sector em ebulição. Pedro Adão e Silva aparece como a surpresa de ultima hora e quanto a mim negativa. Traz consigo o selo de “job for the boy” e que incompreensivelmente aparece como nomeado precisamente no dia de inicio das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril a que preside. Talvez isso explique o esquecimento do convite ao General Ramalho Eanes…

Veremos no que dará um executivo excessivamente politizado e com poucas novidades numa altura em que tanto precisamos de dar passos seguros e firmes em direção ao desenvolvimento e à produção de riqueza sem esquecer o equilíbrio da sociedade e a paz social. De António Costa pouco haverá a dizer. Já todos o conhecem e se nele votaram é porque ou gostaram do que viram ou porque na verdade não viram melhor…