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Conhecer o passado, entendero presente, preparar o futuro

O posicionamento da Madeira como destino seguro levou naturalmente a que pudéssemos captar fluxos de turistas

A Madeira e o Porto Santo vivem um momento particularmente animador em termos de turismo, com níveis de operações aéreas que estimulam um setor há muito afetado pela pandemia de covid-19. No entanto, existem diversos fatores a ter em conta para que possamos entender este “momento” e evitar que seja efémero, repetindo erros do passado.

O posicionamento da Madeira como destino seguro, levou naturalmente a que pudéssemos captar fluxos de turistas, muitos deles impulsionados pelos próprios operadores turísticos e companhias aéreas cuja sobrevivência depende obviamente de manter a sua atividade, tendo estes procurado destinos que oferecessem garantias a quem quisesse viajar. Mas tudo isto significa também que o crescimento das operações para a Madeira não foi orgânico, pois existem inúmeros destinos encerrados ou que não oferecem condições propícias ao regresso do turismo.

Os operadores turísticos estão atentos aos indicadores de todos os potenciais destinos, onde atualmente se discutem crescimentos do número de casos de infeção em Espanha ou na Grécia, onde a Turquia e o Egipto permanecem fora das grandes opções, ou mesmo em casos de países que exigem testes ou mantêm regras mais restritivas à entrada de turistas, mesmo com certificado de vacinação.

O comportamento das companhias aéreas não é diferente, e o processo de decisão acompanha as opções tomadas pelos operadores turísticos, sendo que neste momento, e ao contrário do que sucedia antes da pandemia, existem equipamentos disponíveis para aumentar capacidade para destinos que outrora ficariam fora das prioridades.

O facto de vivermos ainda em contexto de pandemia, permanecendo um elevado grau de incerteza, inclusive nos potenciais turistas, leva a que tenhamos assistido a alterações no perfil de turista que nos visita. Não apenas em termos de origem, pois existem mercados emissores que outrora eram praticamente inexistentes, mas também a nível de idade, tendo surgido visitantes mais jovens, frequentemente acompanhados por crianças. Muitos deles são também clientes diretos, que reservam sem intermediários e oferecem à hotelaria a possibilidade de praticar preços mais elevados por quarto.

Somos efetivamente percepcionados como destino seguro e costuma dizer-se que com o mal dos outros vivemos bem, mas é fundamental recordar que no passado, por diversas outras razões, já vivemos situações semelhantes. Com a instabilidade provocada pela Primavera Árabe, quiçá o exemplo mais recente, a Madeira e o Porto Santo captaram fluxos de turistas de novos mercados e assistiram ao crescimento dos mercados tradicionais, tal como acontece no momento presente. Numa análise mais fina, até podemos relembrar a existência de voos da Polónia para o Porto Santo em 2011, algo que volta a acontecer em 2021. Não há coincidências e a história, repete-se. O problema, esse, também, com um interregno de 10 anos entre as duas operações, e este é o cerne da questão.

Perante este cenário, mais do que nos fecharmos sobre nós mesmos numa atitude de soberba e auto-elogio que poderá vir a custar muito caro no futuro, importa perceber como vamos fidelizar estes novos mercados e sustentar a recuperação dos mercados tradicionais, como vamos manter as operações aéreas quando reabrirem destinos concorrentes, como vamos continuar a atrair os novos turistas, mais jovens e diretos, sem descurar o turista com o perfil tradicional que nos visita há décadas.

Há efetivamente um conjunto de oportunidades que resultam desta pandemia, um filão por explorar, porque o mais difícil em condições normais é captar novos mercados e novos turistas, e isso, felizmente, conseguimos assegurar em resultado da pandemia e do controlo da mesma a nível regional. Mas ao contrário do passado recente, não podemos permitir que se torne apenas num fenómeno passageiro. Temos de chegar com proximidade ao cliente, seja o turista, a companhia aérea ou o operador turístico, direcionando a promoção de acordo com as suas preferências, mantendo-a sempre fiel à autenticidade do produto. Temos de cuidar e requalificar o produto, tantas vezes maltratado e esquecido, e temos de continuar a apostar na formação profissional das pessoas fantásticas que dedicam a sua vida a receber quem nos visita.

Desde Maio de 2020 que ouvimos falar de retoma, mas não podemos aceitar pseudo-retomas que ficam 30% abaixo do ano passado ou mais de 50% abaixo dos números pré-pandemia, como foi divulgado nos últimos dias. E não podemos, de forma alguma, voltar a perder oportunidades, sobretudo quando conhecemos o passado, entendemos o presente e temos a obrigação de preparar o futuro.