Crónicas

São Tomé, ver para crer

Não é só o cheiro da terra que nos envolve nem tão pouco as pessoas afáveis e prestáveis que nela habitam e vai muito para além daquilo que normalmente corporiza o nosso imaginário repleto de boas praias e um mar de água temperada

Há sítios no Mundo que nos habituámos a ver em postais e imagens partilhadas nos folhetos das agências de viagens e mais recentemente nas redes sociais e que nos fascinam. Quando lá chegamos umas correspondem à realidade, outras são verdadeiros embustes. Ao chegar a São Tomé, esta semana, aonde vim em negócios pude constatar que por aqui, como dizia o Santo com o mesmo nome vale a pena ver, para crer. Já estive em muitos e diferentes países em diversas latitudes mas esta ilha é diferente. Em vários sentidos. Não é só o cheiro da terra que nos envolve nem tão pouco as pessoas afáveis e prestáveis que nela habitam e vai muito para além daquilo que normalmente corporiza o nosso imaginário repleto de boas praias e um mar de água temperada. Mas vamos por partes.

Comecemos pela vegetação absolutamente magnânima. Saindo da cidade, pequena mas agradável, em direção ao sul aquilo a que assistimos não é passível de descrição. Nem as palavras mais bonitas do dicionário substituem os nossos olhos. Vem-me à memória o filme do King Kong. Uma orgia de palmeiras intercaladas por muitas outras espécies compõem um imponente cenário digno de um filme de Hollywood. Um verde absolutamente inebriante que vai para além do que a vista consegue alcançar e que mostra como pano de fundo o Pico Cão Grande, uma maravilha geológica de origem vulcânica com uma forma pronunciadamente aguda. Não precisamos de fazer horas de carro para termos a sensação de estar a entrar num “Jurassic Park” sem dinossauros mas com muitas outras espécies animais e que vão escondendo praias idílicas das quais destaco a Jalé e a Sete Ondas. Alguns Eco Resorts ainda muito pouco evoluídos vão mantendo alguma capacidade de instalação sem ferir o meio ambiente.

Umas duas horas separam-nos do fim da linha e que passam num instante tanta é a vontade de parar para tirar fotografias. Na verdade fazem um contraste perfeito com os espaços que por cá foram deixados pelos portugueses, sejam espaços senhoriais com um arquitetura fascinante ou roças lindíssimas e muito bem cuidadas hoje transformadas em alojamentos e que mantêm a traça original sem que isso possa ferir a sua sustentabilidade. Uma preocupação imensa em preservar e cuidar. A gastronomia é variada mas muito saborosa que no fundo mescla sabores antigos às especiarias e ervas locais. Destaco o cozinheiro João Carlos Silva e o seu conceito “Na roça com os tachos” que aplica na Roça São João mas que se estende por um variado manancial de propostas e espaços culturais que oferecem uma programação cuidada e muito bem pensada. O CACAU ( Casa das Artes Criação Ambiente e Utopias é disso expoente máximo.

Juntamos a tudo isto um clima tropical que nos faz desejar ficar por aqui para sempre. O silêncio que ainda não foi interrompido por gruas e betão, os projectos sustentáveis e a própria essência dos locais. Mesmo as construções mais humildes de quem por cá vive não ferem a paisagem. Casas de madeiras com estacas estão longe de poder ser comparadas a barracas. São Tomé é de facto um paraíso na Terra. Aqui não há enganos. É ver para crer. Tudo o que desejamos e que preenche os nossos sonhos está aqui plasmado de uma forma ou de outra. São Tomé é espaço de cultura. É natureza em estado puro e merece ser visitado por pessoas que saibam respeitar o que aqui encontram. Sim, ainda existem espaços assim no Mundo, onde tudo parece fazer sentido na nossa cabeça… É real, é único e está aqui!