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"Isto está muito tenso, tivemos de fechar ao meio-dia e mandámos os funcionários embora"

Escala de violência na África do Sul intensificou-se na tarde desta segunda-feira, conforme descreve ao DIÁRIO Fátima Loreto, natural da Calheta

Os saqueadores furtaram até as prateleiras.
Os saqueadores furtaram até as prateleiras.

A desordem na África do Sul agravou-se a partir do meio dia desta segunda-feira. Os emigrantes madeirenses estão apreensivos e a grande maioria não voltou a abrir os negócios, devido ao aumento da escalada da violência em Joanesburgo.

“Neste momento, a nós só incendiaram parte de um prédio nosso. Isto está muito tenso. A peixaria ainda não foi atingida, mas tivemos de fechar ao meio-dia e mandamos os funcionários embora, porque começaram a ligar a avisar para fechar porque a situação estava a piorar”, reportou ao DIÁRIO Fátima Loreto, empresária natural da Calheta.

A emigrante adiantou ainda que os seus primos estão noutra cidade e têm negócios de talhos e que "naquela zona muita gente perdeu tudo”.

Com a voz tremida e preocupada, Fátima Loreto descreve que os saqueadores furtaram até as prateleiras. "Estão a invadir os centros comerciais, a levar tudo e a queimar, não sei onde isto vai parar", desabafou.

“Agora na cidade de Durban um centro comercial grande foi completamente destruído, roubaram tudo e também estava agora na televisão no Soweto, que é a 'zona deles' e que é perto de nós também tem um centro comercial a arder", transmtiu a empresária radicada em Joanesburgo. 

Um outro empresário madeirense, natural dos Canhas, Manuel Baeta, disse que neste momento já destruíram oito negócios do seu grupo, para além de outros onde tem sociedade. O nervoso sente-se na voz do empresário que descreve uma situação "muito pior hoje".

Manuel Baeta, esclareceu que só um negócio do seu grupo que ainda não foi destruído pela onda de protestos e que os empresários começam a temer pela própria vida e procuram garantir a segurança deles e dos seus familiares, contratando protecção pessoal. "Por isso, nós estamos aqui com segurança armada”.

Pelo menos três supermercados de madeirenses saqueados e incendiados em Durban

Pelo menos três supermercados de empresários portugueses, filhos de madeirenses, foram saqueados e incendiados no litoral do país em resultado dos distúrbios pró-Zuma, disse hoje fonte consular à Lusa.

"Em Durban consta um caso de um supermercado do Food Lovers Market, onde entraram durante a noite, fizeram prejuízos e roubaram muita coisa", adiantou o cônsul honorário de Portugal em Durban, Elias de Sousa, à Lusa.

A África do Sul tem sido sacudida nos últimos dias por violentos protestos depois do ex-Presidente sul-africano Jacob Zuma ter sido detido.

"Depois temos, infelizmente, em Pietermaritzburg, uma família que tinha vários supermercados e dois deles foram afetados, julgo que um deles foi incendiado, roubaram muita coisa e também destruíram", explicou.

Elias de Sousa considerou que a situação que se vive na região litoral do país é neste momento de "grande apreensão", acrescentando que "têm incendiado supermercados, há imensos distúrbios e estamos a aguardar a comunicação ao país do Presidente da República Cyril Ramaphosa sobre esta situação de insegurança", frisou.

O cônsul português confirmou à Lusa que as Forças Armadas sul-africanas estão destacadas nas ruas de Durban e Pietermaritzburg, capital da província litoral oriental do KwaZulu-Natal, para conter as ações de violência que eclodiram desde quinta-feira após a detenção do ex-Presidente Jacob Zuma para cumprir pena de prisão por desrespeito ao Tribunal Constitucional, a mais alta instância judicial no país.

Nesse sentido, Elias de Sousa considerou que o envio da tropa sul-africana "será uma mais-valia porque parece que o número de polícias não era suficiente".

O cônsul honorário português frisou que "as pessoas estão preocupadas".

"Não é só a nossa comunidade, mas toda a população em geral porque aqui onde vivo temos segurança dia e noite, mas não havendo transportes é possível que à noite não tenhamos segurança", acrescentou.

No país, estima-se que vivam pelo menos 200 mil portugueses e lusodescendentes, a maioria com ligações à Madeira.