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Sair da crise para poder gerir crises

Neste regresso, que podemos fazer para poder gerir adequadamente as crises globais?

O caminho ainda é longo mas o mundo emerge, respirando esperança. Apesar das disparidades regionais e dos enormes custos que ainda se adivinham, a porta de saída desta crise pandémica destranca-se e, mesmo a medo, acreditamos que se pode rodar o manípulo e deixar o fresco ar entrar e, depois, voltar a poder sair. Quando saírmos, diferentes, levaremos o que aprendemos. Proteção, medo, precaução, aviso, limitação, condicionamento, induzidos pela tempestade COVID-19. Mas levaremos também o deslumbramento, a redescoberta das coisas, grandes e pequenas, das maravilhas e misérias e, possivelmente, a noção do que somos e das nossas responsabilidades no que respeita a um futuro, que se diz e quer, comum.

A crise COVID-19 sendo global, demonstrou a necessidade de resposta global. Está claro que não haverá solução nem caminho viável sem abordagem global. O que aprendemos com isso e o que podemos fazer com essa experiência relativamente a outras crises, igualmente globais?.

Antes da COVID 19, olhávamos com demasiado sossego para outras crises globais. A crise climática, a crise da perda de biodiversidade, a demografia caótica, as desigualdades sociais, globais e locais, entre outras, não mereceram a atenção, esforço e energia que a COVID-19 suscitou. Vamos sair da crise COVID-19. Não restam dúvidas de que é uma questão de tempo e estaremos melhor preparados para enfrentar novas situações semelhantes. Os avanços científicos e tecnológicos a par dos mecanismos produtivos e de distribuição associados são um dos ganhos mais assinaláveis desta crise. No entanto, as demais crises, porventura mais profundas e seguramente mais perigosas, porque definitivas, continuam aí.

Neste regresso, que podemos fazer para poder gerir adequadamente as crises globais?.

De modo algo surpreendente, foi possível reunir investimentos brutais que darão suporte a planos de recuperação (e resiliência?). Onde estaria e o que seria feito deste dinheiro todo se não tivesse acontecido a COVID-19? Seja como for, ele aí está, investimento como nunca, disponível, planeado e atribuído a linhas estratégicas e investimentos, ditos fundamentais, para salvaguardar o nosso futuro comum. Falta perceber o alcance destes investimentos no que se refere à sustentabilidade, aferida agora, não pelo retorno económico linear e imediato mas, desejavelmente, contabilizando os custos sociais, as implicações ambientais e como se relacionam com a descarbonização e alterações climáticas. Não se conhecem ainda os instrumentos de acompanhamento, monitorização e avaliação mas seria desejável perceber os efeitos secundários da utilização da bazuca salvadora. Teremos uma sociedade com maior equidade, empregos mais justos e duradouros, Estado menos guloso relativamente aos rendimentos do trabalho?. Teremos um território melhor gerido, os ecossistemas mais resilientes e a disponibilizar os seus serviços fundamentais, menos poluição, melhor saúde e melhor ambiente para as pessoas?. Estaremos verdadeiramente em transição para uma maior eficiência, com acesso e utilização, por todos, às tecnologias disponíveis e, com isso, mais próximos de garantir a igualdade de oportunidades?