Húngaros são bons…. em outras coisas

Confesso que não costumo ligar às notícias nem às opiniões no que respeita ao futebol, mas neste caso, como húngaro que sou, senti que tinha de reagir ao artigo de opinião publicado no DN Madeira no dia 16 de junho, assinado pelo sr. Rui São Marcos, com o título “Húngaros são bons…. em bolachas com chocolate”.

É verdade, e não o nego, que a Hungria não tem uma equipa nacional de futebol que se possa comparar com a equipa que é detentor atual do título de Campeão da Europa.

É verdade que a seleção portuguesa ganhou o jogo por 3-0. O meu palpite foi 3-1 , o que de certo modo se concretizou, com o golo dos húngaros anulado, e bem, por posição irregular do jogador. O resultado não foi surpresa para ninguém. Pelo ranking internacional da UEFA Portugal ocupa o 6š, enquanto a seleção da Hungria ocupa o 28š lugar. Um empate ou a vitória da seleção húngara seria, sim, surpreendente.

É verdade que a equipa nacional da Hungria “apenas se mexeu alguns minutos na segunda parte”. Acredite que vendo a primeira parte do jogo até fiquei irritado com a passividade demonstrada pela equipa da Hungria. Mas quando “se mexeu alguns minutos na segunda parte” até criou algum perigo e marcou um golo, como já disse, bem anulado.

Também é verdade que “húngaros são óptimos bolachas cobertas de chocolate” (por acaso não são as minhas preferidas…) Nem vou escrever aqui sobre outras receitas deliciosas.

Aposto sr. Rui que estas bolachas estavam a saber a amargo até ao minuto 84 do jogo, pois a ´coisa´ não estava fácil, e só a partir do primeiro golo começaram a ter um sabor mais adocicado.

Escolher um título destes para um artigo de opinião até tem alguma piada, e acredite que eu entendi e até larguei uma gargalhada, mas mesmo assim acho infeliz.

Nenhum povo tem de ser bom ou excelente em tudo e, de facto, nenhum povo é. Os portugueses, entre muitas outras coisas, são bons na arte da bola.

Os húngaros são bons em outras áreas da vida. Por exemplo em inventar coisas. Acredite que a lista é muito grande, por isso vou mencionar apenas algumas “coisinhas”:

O Sr. Rui sabia que a esferográfica BIC , que provavelmente usa todos os dias, foi inventado por um húngaro chamado László BÍró?

Mais! O jogo de lógica mais vendido do Mundo, o famoso cubo mágico ou cubo Rubik, também é uma invenção húngara. (Ernö Rubik)

Sabia que as bases do modelo de aquilo que chamamos hoje de computador digital baseiam-se nas teorias e experiências de um matemático húngaro chamado János Neumann (John von Neumann) e que a vitamina C (coisa insignificante) foi isolada e identificada pela primeira vez pelo bioquímico húngaro Albert Szent-Györgyi? De resto este cientista é um dos 16 galardoados húngaros (ou húngaro descendentes) com prémio Nobel. Sabia que a holografia foi concebida teoricamente em 1948 pelo húngaro Dennis Gabor, vencedor do Prémio Nobel de Física em 1971? E são apenas algumas “coisinhas”, da área das invenções e de ciência, como já disse há pouco.

Nas artes, e nomeadamente na área da música erudita, desde o final do séc. XIX até a atualidade, muitas das grandes orquestras dos EUA (Dallas, Minneapolis, Washington, Chicago, Nova York, Los Angeles) e de Europa (Munique, Londres etc.) foram lideradas por maestros húngaros ou de origem húngara?

E já que estamos quase na altura dos Jogos Olímpicos de Tóquio vamos falar um pouco de desporto: até ao momento, na história dos Jogos Olímpicos de verão, desde 1896, a Hungria (com uma área territorial e número de população muito semelhantes ao Portugal) conquistou 175 medalhas de ouro, 147 de prata e 169 de bronze, destacando-se as modalidades de esgrima, natação, canoagem, lutas, ginástica, boxe, atletismo, polo aquático, pentatlo. E imagine: a Hungria até tem 3 títulos de Campeão Olímpico em futebol! (estes títulos, é verdade, não devem ser muito recentes…)

E podia continuar, mas não posso dispensar mais tempo para este assunto. Tenho mais que fazer.

Espero que o Sr. Rui no final do jogo de amanhã não tenha que engolir umas salsichas alemães, sem as mastigar primeiro, e depois do jogo com a França um baguete francês por inteiro, embora, mastigadas, sejam iguarias bem boas.

Ahh e cá fica o meu convite para visitar e conhecer um pouco melhor o meu país de origem: Hungria.

O futebol, como o sr. Rui deve saber, é um mundo, mas o Mundo não é só futebol.

Viva a amizade, viva Portugal e viva Hungria com as melhores coisas que estes dois povos sabem fazer!

Tenha um bom dia.

László Szepesi