Querem enfiar-nos o Barreto

Mais um episódio em que a classe dirigente política, em vez de ser clara e transparente com os seus eleitores, demonstra mais uma vez a sua opacidade e distanciamento para aquilo que deveriam ser as suas responsabilidades enquanto decisores políticos.

Rui Barreto, actual líder do CDS Madeira e número 3 na hierarquia do Governo Regional, de acordo com as mais recentes notícias, terá alegadamente recebido montantes pecuniários que teriam como objectivo financiar a campanha partidária, na medida em que o partido não estaria a conseguir obter empréstimos junto das entidades bancárias. No entanto esses valores nunca entraram no partido, de acordo com o líder nacional Francisco Rodrigues dos Santos, o qual acrescenta que “a nível pessoal o que cada um entende como mais vantajoso ou oportuno ou avalizado para a sua esfera privada depende de cada um”. Ou seja, entende o líder nacional do CDS que estes montantes se referem a empréstimos pessoais a Rui Barreto e que, dessa forma, o assunto estará explicado (não sei se recentemente terá tido o mesmo tipo de discurso relativamente a José Sócrates e a sua política pessoal de empréstimos).

Ora, o assunto carece obviamente de explicações para que não subsistam quaisquer suspeitas relativas ao comportamento político de Rui Barreto, nomeadamente:

1) como explicar que os valores, sendo alegadamente financiamento para a campanha, nunca tenham entrado nas contas do partido?;

2) como explicar os valores terem alegadamente entrado em contas pessoais de 5 pessoas distintas por valores parciais ligeiramente inferiores aos 5000 EUR? (será porque o Banco de Portugal obriga a que os bancos identifiquem o depositante de transferências iguais ou superiores a 5000 EUR?);

3) se foram alegadamente empréstimos pessoais porque não foram declarados no Tribunal Constitucional de acordo com a lei da transparência a que obriga os detentores de cargos públicos?;

4) se entretanto foi conseguido um empréstimo na banca, como justificar que a devolução dos valores tenha alegadamente demorado ano e meio e apenas após a divulgação jornalística de toda esta história? (hoje em dia com os serviços bancários online este tipo de operações demora segundos);

Todas as pessoas se podem declarar de consciência tranquila, desde Barreto ao presidente do Governo Regional, mas o estado da consciência de cada um, hoje em dia, ainda é insuficiente para a cabal explicação desta situação que todos os apoiantes do CDS e todos os madeirenses deveriam merecer. Não nos queiram enfiar o Barreto.

Miguel F. Carvalho