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Prémio de Arquitectura da Madeira e Porto Santo

Estão de parabéns os vencedores, o júri e a Secção Regional da Madeira da Ordem dos Arquitectos pela iniciativa

Quer se queira quer não, num concurso de arquitectura só o primeiro prémio interessa ao público e, claro está, ao autor do projecto – que o diga quem já tomou parte em algum e ficou em segundo lugar... Convém também não esquecer que a escolha tanto qualifica o premiado quanto o júri. Já as menções honrosas – que os concorrentes recebem com um sorriso amarelo – não devem ser vistas como prémios de consolação, mas como um incentivo para fazer melhor.

Vem isto a propósito do Prémio de Arquitectura da Madeira e Porto Santo – resultado da louvável iniciativa da Secção Regional da Madeira da Ordem dos Arquitectos – premiar, através do parecer e análise de um júri credenciado e idóneo, as obras de maior qualidade arquitectónica que vão sendo construídas na Região. A cerimónia de entrega decorreu no passado dia 4 de Outubro e o primeiro prémio coube ao Studio Dois Arquitectura, constituído pelos arquitectos Carolina Sumares e Rik den Heijer, com a participação de Dirk Mayer.

Correndo o risco de ser parcial, não só por conhecer os vencedores, mas por ter trabalhado com a Carolina Sumares na direcção da antiga Delegação da Ordem dos Arquitectos, devo dizer que em nada me surpreendeu esta atribuição. Já desde algum tempo os considero os arquitectos mais aptos da sua geração na Madeira. A experiência internacional em países como o Brasil e a Holanda, à qual sucedeu o enraizamento numa pequena comunidade rural da nossa ilha, constituem, do meu ponto de vista, a melhor chave para entendermos a sua arquitectura.

O que ela nos revela é, desde logo, o perspicaz entendimento dos valores da paisagem e cultura locais, sem concessões à sofisticação parola das ideias importadas da última revista de moda. Creio que foi o conhecimento de outras realidades, de outros mundos, de outras línguas e de outras práticas que deu a esta equipa a mundividência e a maturidade que está na base da arquitectura que praticam.

Lê-se no relatório do júri: “A clareza da sua implantação e das suas formas consegue (...) ordenar a amálgama de volumes construídos de diferentes tamanhos e cores que compõem o denso e desordenado tecido edificado envolvente”. Totalmente de acordo: eis uma arquitectura capaz de dialogar com a desordem que a cerca e de lhe conferir um sentido. Extraordinária demonstração de maestria para quem actua numa paisagem saturada de vida humana e de maus-tratos. Se dúvidas houvesse, eis a prova de que a melhor arquitectura não precisa de lugares imaculados para se revelar. Estão de parabéns os vencedores, o júri e a Secção Regional da Madeira da Ordem dos Arquitectos pela iniciativa.