Desporto

Mortimore, o treinador que ‘vingou’ a derrota na Madeira com o 9-0 na Luz

Conquistou dois campeonatos pelo Benfica. Morreu na terça-feira, aos 86 anos

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Funchal, 4 de Março de 1979. Um ‘caldeirão’ a rebentar pelas costuras recebe o Benfica. O Marítimo dá os primeiros passos na I Divisão. Cumpre a segunda época entre os ‘grandes’, depois de ter conseguido a manutenção, com muito custo, na época anterior, em igualdade pontual com o despromovido Portimonense. O Benfica, que em 1977/1978 deixa fugir o campeonato para o FC Porto, embora com os mesmos pontos, chega à Madeira na ‘ressaca’ de uma eliminação na Taça de Portugal. Aos pés do Sp. Braga.

John Mortimore é o treinador das ‘aguias’. Na altura o Benfica só tinha portugueses no plantel. Assim determinavam os estatutos do clube. Bento, Pietra, António Bastos Lopes, Carlos Alhinho, Humberto Coelho, Alberto, Shéu, Toni, Chalana, Nené e Jorge Silva são os nomes escolhidos pelo treinador inglês para o ‘onze’. No decorrer da segunda parte entram Eurico Gomes e Cavungi.

O Marítimo, então 14.º classificado, abaixo da linha de água, é comandado por Manuel de Oliveira. Quim, José Olavo, Osvaldinho, Eduardo Luís, Noémio, Rui, Eduardinho, Vítor Gomes, Valter Costa, Arnaldo Silva e China vão a jogo de início. Depois do intervalo Arnaldo Carvalho e Dejair ‘refrescam’ a equipa.

Foi o 9.º confronto entre verde-rubros e ‘águias’, numa história que começou em 1937 num jogo para a Taça de Portugal. A tradição é favorável ao Benfica. De forma inquestionável: oito vitórias em oito jogos. Mas um dia chegaria a vez do Marítimo. E foi mesmo nesse 4 de Março de 1979.

China e Arnaldo Silva, aos 16 e 33 minutos, respectivamente, marcaram os golos verde-rubros. A vantagem ao intervalo já constituía surpresa e o Benfica apenas conseguiu reduzir, aos 75, por Jorge Silva, que mais tarde representaria os madeirenses. O 2-1 final fez o ‘caldeirão’ transbordar de emoção. O Marítimo acabava de derrotar o Benfica. Pela primeira vez em jogos oficiais. Dois pontos importantes para a manutenção na I Divisão.

O DIÁRIO, através da crónica de Rui Dinis Alves, sublinhava a “capacidade futebolística, organização táctica e muito brio” dos verde-rubros, com destaque para o “golão” de Arnaldo Silva, assim como as exibições de Vítor Gomes, China e Valter.

“Os golos foram prendas do Benfica”, ironizava John Mortimore, na cabina dos Barreiros, após o jogo, destacando a exibição do Marítimo na primeira parte. Já Toni, o capitão do Benfica, considerava “justo” o desfecho. Um jogo também marcado por “um penálti fantasma”, assinalado por Evaristo Faustino (AF Leiria), conforme destacava a reportagem do DIÁRIO, ainda assim desperdiçado por Nené.

Aquele 31 de Agosto na Luz

John Mortimore deixou o Benfica no final da época 1978/1979, com o ‘amargo’ de ver o título escapar para o FC Porto, tal como tinha acontecido na época anterior. O treinador inglês, que já tinha sido campeão em 1976/1977, voltaria ao Benfica em 1985 e com novo reencontro com o Marítimo. Desta vez com contornos bem diferentes.

Logo na 2.ª jornada, a 31 de Agosto, os verde-rubros vão à Luz. Para uma derrota estrondosa. 9-0. Dois de Manniche, ambos de penálti, outros dois de Carlos Manuel, mais um ‘bis’ de José Luís, e ainda golos de Diamantino Miranda, Oliveira e Rui Águas. Um resultado para a história, ‘vingando’ a derrota na Madeira seis anos antes.

Nessa tarde, Bento, Samuel, Álvaro, Pietra, Oliveira, Veloso, José Luís, Diamantino, Carlos Manuel, Nunes e Manniche - o dinamarquês – sobem ao relvado para defrontar o Marítimo (Simões e Rui Águas vão a jogo depois do intervalo). Já os verde-rubros, orientados por Mário Nunes, apresentam Quim, Arnaldo, Quim Nunes, Russo, Bráulio, Vítor Madeira, Adérito, Roçadas, Sylvanus, Camacho e Benítez. Cerdeira entra na segunda parte.

“Madeirenses demasiado humildes para segurar ‘aquele’ Benfica”, escrevia o DIÁRIO sobre o jogo. “Benfica é sempre o Benfica”, lamentava Mário Nunes, o treinador dos verde-rubros. “Sabia de antemão que tínhamos de pagar a derrota do Benfica nas Antas, mas assim, tão concludente…”, resumia, resignado, perante aquele desfecho. As ‘águias’ tinha começado o campeonato a perder, por 2-0, na visita ao FC Porto. O Marítimo alcançaria a manutenção na I Divisão em 1985/1986.

Já John Mortimore, que na primeira temporada de Benfica já tinha derrotado o Marítimo por 6-0 na Luz, dizia estar “contente pela exibição, pelo resultado e pela equipa”. Nessa época 1985/1986, que marcou o regresso a Portugal, o treinador inglês deixaria escapar o título para o FC Porto, na altura já presidido por Jorge Nuno Pinto da Costa. Mas na temporada seguinte, o Benfica foi campeão - mesmo com a derrota 7-1 em Alvalade - e conquistou a Taça de Portugal, precisamente diante do emblema leonino. John Mortimore também seria treinador do Belenenses, em 1988/1989.

John Mortimore morreu na terça-feira aos 86 anos.

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