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UE não é ingénua e quer novas regras com China ainda este ano

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O comissário europeu do Mercado Interno, Thierry Breton, diz que a União Europeia (UE) "não é ingénua" e vai insistir na salvaguarda do acesso ao mercado chinês no acordo com a China, esperando a conclusão do processo este ano.

"Os investidores chineses têm uma grande facilidade de acesso ao mercado único e as empresas europeias, infelizmente, não têm a mesma facilidade na China, de todo. Espero que, pelo menos nesta questão, possamos rever [as regras] e criar uma posição mais equilibrada para as empresas europeias", afirma o responsável, em entrevista à agência Lusa e outros 'media' europeus em Bruxelas.

Questionado pela Lusa sobre o acordo de princípio sobre investimentos alcançado entre Bruxelas e Pequim no final do ano passado, que tem ainda de ser ratificado, Thierry Breton admite: "Não somos ingénuos e sabemos que isto é algo que precisa de ser salvaguardado".

Para o responsável, que já liderou empresas francesas de tecnologia e de telecomunicações, algumas das quais com forte presença naquele país asiático, "é importante que sejam abolidas algumas barreiras para investimento em determinados setores e que seja muito mais fácil estabelecer uma empresa na China" por parte de investidores europeus.

"Eu fundei várias empresas na China durante a minha vida, fiz parte dos maiores empregadores europeus na China. Quando era presidente do conselho de administração da [tecnológica] Thomson tinha quase 20 mil funcionários na China e, por isso, sei que é difícil abrir um negócio na China", insiste Thierry Breton.

Frisando ser "alguém que foi sempre muito ativo na China", o comissário europeu diz à Lusa e outros meios de comunicação social europeus que "tudo o que for feito para criar equilíbrio será bom".

"E também temos de impor alguns valores, nomeadamente para os trabalhadores. Questões como [combater] o trabalho forçado são importantes para nós", adianta.

Já quando questionado sobre prazos, Thierry Breton indica que "vai demorar algum tempo" até ao acordo estar fechado, ainda que o preveja este ano.

"Primeiro, terá de ser discutido e aprovado pelo Parlamento Europeu e sei que aí existem alguns receios relativamente aos direitos laborais na China e, claro, depois terá de ser aprovado pelo Conselho, o que talvez aconteça no primeiro semestre deste ano", isto no que toca à conclusão do processo do lado comunitário.

No final de 2020, Bruxelas e Pequim chegaram a consenso preliminar para um acordo global de investimento UE-China, após sete anos de negociações (começaram em novembro de 2013).

O objetivo é, através deste acordo de investimento, proteger mutuamente os investimentos europeus na China e os investimentos chineses na UE, tornando nomeadamente mais fácil que investidores da Europa comprem participações em empresas chinesas, para esta passar a ser uma relação recíproca.

O grupo dos 27 exige também maior respeito pela propriedade intelectual, o fim das transferências forçadas de tecnologia impostas a empresas estrangeiras na China e os subsídios excessivos atribuídos às empresas públicas chinesas.

Os baixos padrões laborais chineses, e em particular a questão do trabalho forçado, constituíam, para vários Estados-membros da UE, o principal obstáculo à conclusão de um acordo com Pequim.

O texto do acordo deverá agora ser finalizado pelas partes e aprovado pelo Conselho (Estados-membros) e pelo Parlamento Europeu.