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UE é "parceiro leal" mas não "vassalo" dos Estados Unidos

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O ex-presidente da Comissão Europeia Jean-Claude Juncker considera que a União Europeia (UE) "deve defender os seus interesses em conjunto com os Estados Unidos", mas não é o "escravo" ou o "vassalo" dos parceiros norte-americanos.

"Somos parceiros, parceiros leais, mas nós não somos os escravos e os vassalos dos Estados Unidos", diz, em entrevista à Lusa, o ex-presidente da Comissão Europeia.

Juncker, que presidiu ao executivo comunitário entre 2014 e 2019, coincidindo com a maior parte do mandato do ex-presidente norte-americano Donald Trump, considera que as relações entre Bruxelas e Washington "melhoraram" desde que Joe Biden chegou à Casa Branca, dado que o novo Presidente dos Estados Unidos lidera uma administração que se "autodeclara amiga da União Europeia".

"Penso que os americanos aprenderam a lição porque, durante a administração Trump, o sentimento geral em Washington era de que a UE era uma invenção criada com o intuito de reduzir o papel internacional dos Estados Unidos da América", aponta o estadista.

Tendo-se frequentemente encontrado com Donald Trump -- que o admirava por ser um "homem duro" e um "matador brutal" no que se refere a negociações --, Jean-Claude Juncker reconhece que as relações comerciais com a administração do ex-presidente norte-americano foram "difíceis".

Agora, apesar de os Estados Unidos e a UE terem "voltado a ser os Aliados" que eram "antes da era Trump", o estadista europeu alerta que o bloco "não deve cometer o erro de pensar que todos os problemas desapareceram" nas relações entre os dois parceiros.

"Ainda existem problemas, mas agora estamos num campo de debate que é caracterizado pelo facto de que os norte-americanos consideram os europeus como seus aliados, o que sempre foi, é, e será o caso", sublinha.

Mantendo assim a linha que tinha adotado enquanto presidente da Comissão Europeia -- onde tinha referido que a UE deve ambicionar ser um "ator importante no cenário global" -- Jean-Claude Juncker diz que, no que se refere às relações internacionais, o bloco "não tem de seguir cegamente o tipo de decisões que são tomadas em Washington".

"A União Europeia é uma entidade por si própria. Temos de defender os nossos interesses, mas temos de fazê-lo em conjunto com os Estados Unidos sem seguirmos, em todos os detalhes, as suas indicações", frisa o ex-presidente da Comissão Europeia.

Desde que Joe Biden tomou posse, em 20 de janeiro, o novo Presidente norte-americano tem multiplicado os sinais de boa vontade e cooperação relativamente aos seus parceiros europeus.

Além de duas deslocações do novo secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, a Bruxelas -- onde qualificou a UE de "parceiro de primeiro recurso" para os Estados Unidos --, Joe Biden também já participou, por videoconferência, numa cimeira de chefes de Estado e de Governo da UE, em 26 de março.

Contrariamente ao seu predecessor Donald Trump, que qualificou a UE de "inimiga" e acusou alguns dos seus Estados-membros de se estarem a "aproveitar" dos Estados Unidos em termos comerciais, Joe Biden tem-se mostrado determinado em "revitalizar as relações UE-EUA" e provar que a "aliança transatlântica está de volta", como referiu num discurso durante a Conferência de Segurança de Munique, em 19 de fevereiro.

Nesse sentido, durante o seu primeiro périplo ao estrangeiro enquanto Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden irá passar por Bruxelas para, no dia 14 de junho, participar na cimeira de líderes da NATO e, por volta da mesma altura, reunir-se com o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, no âmbito de uma cimeira UE-EUA.