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Ana Gomes entre europeus que defendem adesão da Escócia à UE

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Dezenas de intelectuais e políticos europeus, entre os quais a portuguesa Ana Gomes, urgem hoje a União Europeia (UE) a aceitar um processo especial de adesão da Escócia antes mesmo de o país obter a independência. 

"A Escócia merece um processo diferente. Embora juridicamente faça parte do Reino Unido, o Governo escocês não pode negociar com a UE. Mas a UE pode declarar que, uma vez que a Escócia já fez parte da UE há muito tempo, caso se torne legal e democraticamente independente, não precisa de se candidatar como 'novo' candidato à adesão", escreve o grupo "Europa pela Escócia".

O grupo, composto por mais de 170 artistas, escritores e académicos, pede que a UE e Estados membros façam "uma oferta unilateral e aberta de adesão: uma proposta excecional para se igualar às circunstâncias excecionais da Escócia".

Entre os signatários estão, entre outros, os escritores Elena Ferrante (Itália), Colm To´ibi´n (Irlanda) ou os ingleses Philip Pullman e Ian McEwan.

A chefe do Governo da Escócia e líder do Partido Nacionalista Escocês (SNP), Nicola Sturgeon, opôs-se à saída do Reino Unido da UE e já anunciou publicamente a intenção de pedir a adesão ao bloco europeu se alcançar a independência.

Os dirigentes europeus têm até agora evitado comentar cenários futuros por entender que esta é uma questão de política interna britânica, alegando que analisarão pedido de adesão apenas quando este chegar de um país independente.

Ana Gomes disse à agência Lusa ter subscrito o apelo com "plena consciência" porque está "convencida de que é importantíssimo ter a Escócia dentro da União Europeia".

"Há um sentimento do povo escocês que ficou traduzido nos votos que devemos respeitar e acolher e incentivar", disse à agência Lusa.

A antiga deputada do Parlamento Europeu entende que Bruxelas não deve coibir-se de intervir tendo em conta o impacto do 'Brexit' na própria UE.

"O 'Brexit' foi um embuste ao povo britânico no seu conjunto, mas houve alguns dos povos do Reino Unido que não se deixaram ludibriar. A UE não pode desconsiderar isso", enfatizou.

Um pedido de adesão de um país à UE tem de ser aprovado pelo Conselho Europeu para dar seguimento a um processo de negociação dos termos da adesão, que depois têm de ser aprovados e ratificados pelos restantes Estados membros.

O apelo hoje publicado surge uma semana antes das eleições para a Assembleia regional autónoma da Escócia, pois uma maioria absoluta poderá colocar pressão sobre o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, para autorizar um segundo referendo à independência.

Numa consulta popular realizada em 2014, 55% dos eleitores votaram pela permanência no Reino Unido, mas os independentistas alegam que o 'Brexit' representa uma mudança de circunstâncias pois a maioria dos escoceses (62%) votou contra.