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Costume do presépio com searas e laranjas

No início do cristianismo, o Menino Jesus era representado com vestimentas de ouro, como filho de um rei. São Bernardo Claraval (séc.XII) chamou à atenção de que Cristo era pobre e até nasceu numa gruta de animais. São Francisco de Assis (séc.XII) para explicar aos camponeses como tinha nascido Cristo, em 1223, numa zona rural em Itália, colocou a imagem do Menino numa manjedoura verdadeira, ao lado de um boi e um burro vivos. Inclusivamente, ali foi celebrada a missa de Natal, utilizando a manjedoura como altar. Assim nasceu o presépio, palavra que significa manjedoura em hebraico. A presença do boi e do burro deve-se a um texto de Ísaías: O boi conhece o seu possuidor e o jumento a manjedoura do seu dono; mas Israel nada sabe (Is 1,3).

Presépio com searas e fruta

No século XVI, devido à fome e crises agrícolas, o cardeal Bérulle, em Avignon (França), colocou searas e laranjas no presépio para que o Menino Jesus abençoasse as sementeiras e as árvores de fruto. Este costume passou a ser divulgado por toda a Europa, principalmente nas igrejas rurais. No Algarve, tal como na Madeira, é, no esencial, esta a representação tradicional: o Menino Jesus colocado no cimo de umas escadinhas, rodeado de searas, laranjas, flores e panos de linho bordados à mão.

Outros costumes

Na serra algarvia, as laranjas colocadas no presépio eram sinal de riqueza. Nas casas das famílias abastadas a escadaria do presépio chegava quase ao teto (como na foto da Junta de Freguesia de Pechão, Olhão). Quando um afilhado ou alguma pessoa amiga fazia uma visita, era costume oferecer uma laranja do presépio. Se o médico ou o padre visitassem a casa, se estes retirassem uma laranja do presépio, toda a família se sentia honrada.

Presépio tradicional da Madeira

Após a descoberta da Madeira parte dos colonizadores era oriunda do Algarve, embora tenham vindo pessoas do Norte e outras bandas. Por este motivo, o presépio tradicional da Madeira, dada a semelhança, certamente, teve influência do Algarve.

Quando eu era criança, minha avó dizia que não se devia deitar fora as searas. Depois do Natal, as searas eram plantadas no scampos de trigo ou junto à vinha, bananeiras, batatas ou noutra cultura. Afinal, era este o espírito original das searas e laranjas no presépio: abençoar as culturas agrícolas.

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