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O CDS Madeira, um ano depois

A 22 setembro de 2019 os madeirenses votaram uma nova Assembleia e um novo Governo. A novidade foi a perda da maioria absoluta do PSD, incapaz de inverter a trajectória de queda: 63% em 2007, 48% em 2011, 44% em 2015 e os 39% agora.

Como partido mais votado, coube-lhe formar governo e reunir o apoio necessário à aprovação do Governo. Tal aconteceu com naturalidade pois a liderança do CDS, esclareceu antes das eleições, estar mais próximo do PSD que do PS.

E disse quais eram as suas bandeiras no seu programa de governo, e presume-se, as prioridades se integrasse o governo: Mobilidade, Saúde, Ambiente, relacionamento com a República, Economia e Emprego.

Este programa, o qual votei como deputado, incorporou pela primeira vez algumas dessas ideias, se bem que sem calendarização. No entanto, o “Core” da governação social-democrata não mudou, tanto que a proporção de votos na coligação era de 7/1.

Neste novo ciclo, três figuras salientaram-se: Rui Barreto, o líder e timoneiro da Economia (em parceria com Pedro Calado), José Manuel Rodrigues, o reformador Presidente da Assembleia e Teófilo Cunha, no sector do Mar, após provas dadas na Câmara de Santana.

Um ano depois, muitos apostaram que o CDS derraparia já nas primeiras curvas e acabaria “fora de estrada”, incapaz de mudar o paradigma governativo. Se me é permitido uma simplificação, houve um pouco de tudo.

O que aconteceu na saúde foi paradigmático. Assistiu-se à manobra dos peões na saúde, diga-se, as chefias de muitos anos, para impedir qualquer reforma no sector. Assim se compreende como barraram uma nova gestão na saúde, corporizada pela Dra. Filomena Gonçalves, certamente mais criteriosa e justa, muito vocacionada para a inovação. Os interesses que existem no Sistema de Saúde falaram mais alto, como bem tive a oportunidade de constatar nas audições que efetuei como diretor clínico e o desenrolar de todo o processo.

O Secretário da Saúde gere de forma competente a pandemia e aprimorou a área da Protecção Civil, mas há muita vida (e morte) para além do Covid!

Infelizmente nunca se deu o mesmo nível de investimento à lista de espera e aos Cuidados de Saúde Primários (CSP). E como não houve no CDS a coragem para assumir o seu projeto até ao fim, e assumir como “seus”, os seus protagonistas, e honrar as promessas feitas na campanha eleitoral aos madeirenses, como seja a transparência na saúde e o acesso a cirurgias e exames, esta mais-valia do partido esfumou-se. Assim, a saúde regional seguirá as mesmas diretrizes, e o percurso de sempre, com todas as suas vicissitudes, já bem conhecidas.

O mesmo aconteceu no Ambiente, uma das bandeiras do CDS durante anos, com a estratégia e discurso a ser aquele vigente há anos, como se viu aliás na estrada das Gingas.

A Mobilidade saiu do discurso. A hostilidade à República entrou.

No Mar, o marasmo de anos de desleixo, parece ter os dias contados. O Secretário do sector usará a mesma vassoura, tão útil em Santana, seja no “pó” e nas “teias de aranha”, haja orçamento para tal. Esta semana constatei a (in)disponibilidade de “frescos” numa grande superfície: dourada (da Turquia), robalo (Grécia), pregado (Continente) e bodião e carapau (Açores) para além dos tradicionais, espada e atum. É preciso mudar este paradigma, e mudará, com uma nova dinâmica, incluindo a aquacultura, se bem que mais ambiental!

Na Economia, Rui Barreto mostra-se capaz de gerir, tão bem ou melhor que o antecessor. No entanto, todos os planos e ideias foram vítimas desta pandemia. A economia está em “coma” e o desemprego “febril”, como aliás em toda a Europa. Terá certamente o maior desafio de todos os secretários do sector pois o Covid expos as debilidades de uma bi-cultura económica (Turismo/Construção Civil). É aqui que a sorte do partido será jogada!

Na Assembleia, a Presidência tem sido brilhante ao gerir um equilíbrio justo entre Governo e Oposição, ao dar outro prestígio à Assembleia, mais aberta à sociedade. É agora palco de uma discussão mais civilizada. O mérito é coletivo, mas é também pessoal, de José Manuel Rodrigues, sem dúvida uma das mais-valias da coligação.

A postura do Grupo Parlamentar é mais difícil de compreender. Creio que não soube explicar a transição da Oposição para o Governo. Os madeirenses têm dificuldade em compreender como, num ano se diz o pior de uma governação e, como mesmo tom, se diz o melhor no ano seguinte. E esquecer tudo o que se disse anteriormente... politicamente, não se pode passar do 8 ao 80 sem beliscar a credibilidade perante o povo. Acertos certamente chegarão, antes cedo que tarde.

Sou daqueles que crê que pouco mudará, mas próximas autárquicas. No Funchal, quem, pela competência e grande credibilidade, e que poderia ganhar pela coligação, não quer concorrer. E quem quer concorrer, não lhe será permitido. Assim, o CDS corre o risco de ser coproprietário de uma candidatura sem o objetivo da meta. Os autarcas do CDS serão facilmente reconduzidos na Camara de Santana, bem como nas sete juntas, pela marca do trabalho e competência evidenciados.

Valeu a pena a pena o CDS estar no Governo? Deixará marca? Ainda é muito cedo para o povo avaliar. Dir-se-á que, para o PSD, foi positivo pois permitiu manter-se no governo e creio aliás, que até ganhou um novo alento. Para a oposição deu-se como provado que os sociais-democratas não são invencíveis e que a população não quererá mais maiorias. Para o povo madeirense, é certo que existe um governo mais aglutinador.

E para o CDS? A dúvida que todos colocam é se o partido será transformativo na Madeira, ao ponto de merecer uma renovação de mandato? Espero que sim, mas a evolução eleitoral do CDS preocupa-me pois poderá ser mais estrutural, não exclusiva da Madeira: 17% em 2011, 13% em 2015 e os 5% atuais, 4% no país. Aguardemos os resultados açorianos. Uma coisa é certa, o CDS regional tem história, ADN e massa crítica para ser útil à Madeira. Que seja!

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