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Madeira

“Sem um tecto é muito difícil reconstruir uma vida”

Filipe Xavier afirmou que os pedidos de ajuda derivados de acções de despejo e impossibilidade de pagar rendas têm sido mais frequentes na Região

Dificuldade em pagar uma casa é um dos motivos que levam muitos para a rua na Ilha da Madeira
Dificuldade em pagar uma casa é um dos motivos que levam muitos para a rua na Ilha da Madeira

Filipe Xavier, psicólogo na Associação Protectora dos Pobres, começou por explicar que a Região tem registado uma diminuição na taxa de exclusão e pobreza, situando-se nos 22,9%, mas, que, no entanto, continua a acima da média nacional (19,7%), “o que indica e reflete que, apesar destas melhorias, encontra-se ainda numa situação vulnerável ao nível de risco de pobreza e exclusão social”.

“Os elevados custos habitacionais, altamente desproporcionais a um rendimento médio, quanto mais a um salário mínimo”, foi um dos pontos referidos pelo profissional de saúde quando questionado sobre que factores mantêm a Madeira acima da média nacional, tendo ainda mencionado a precariedade laboral como um dos contribuidores para esta realidade.

A Região Autónoma da Madeira dispõe de vários serviços e programas para as quais as pessoas se podem dirigir, “dependendo das necessidades que apresentem”, mas nem todos conseguem dar resposta ao número de pedidos diários, segundo o mesmo.

Para além de dispor de serviços que vão desde o complemento de bens de cuidados primários, como a alimentação, banho e roupa, a Associação Protectora dos Pobres (APP) também possui um centro de acolhimento nocturno, “a única resposta de pernoita que temos aqui na Ilha da Madeira”, segundo Filipe Xavier.

O Centro de Acolhimento Nocturno dispõe neste momento de 15 camas para senhores, 9 camas para senhoras e 2 camas para a Linha de Emergência Nacional para os senhores e outras duas da Linha de Emergência Nacional para senhoras”, referiu o psicólogo, adiantando que estas camas são “largamente insuficientes".

Filipe Xavier explicou que a APP recebe, com cada vez mais frequência, “pedidos diários de pessoas que precisam de pernoita. Tem havido imensos despejos ou imigrantes que vêm para aqui e depois ficam de mãos a abanar ou então pessoas que não têm dinheiro para pagar rendas.”

“Temos tido nos últimos tempos algumas ordens de despejo ou pessoas que vêm ao final de um determinado mês, porque já sabem que vão ter de sair e vêm procurar ajuda. Vêm perceber se nos é possível providenciar esse tipo de ajuda”, apontou o especialista em saúde mental, referindo que “é complicado no que toca aos senhores, porque as vagas que temos são praticamente inexistentes, estão quase constantemente ocupadas”.

Já começam a surgir pedidos por parte de imigrantes, de acordo com Filipe Xavier, que mais uma vez sublinha a “dificuldade em dar uma resposta válida em termos de acolhimento a todas estas pessoas que nos procuram.”

“Nesta questão de imigrantes que chegam à ilha, se calhar esperançados por arranjar um trabalho ou motivados pelas condições climáticas da Região, deparam-se com a ausência de respostas e acabam por não ter nenhum lugar e nenhuma pessoa a quem recorrer”, frisou.

Questionado sobre se as pessoas que procuram ajuda por não conseguirem pagar as suas casas trabalham, o psicólogo referiu que “embora não tenha números oficiais, uma grande maioria está a receber apoios sociais, seja uma pensão de invalidez ou uma reforma.”

Ainda não existe Plano Regional para as Pessoas em Situação de Sem-Abrigo 2025–2030.

Em 16 de Julho último, Paula Margarido, secretaria regional da Inclusão, Trabalho e Juventude, após uma reunião com as 24 entidades envolvidas no Plano Regional para as Pessoas em Situação de Sem-Abrigo 2025–2030, que se encontrava em fase de preparação, adiantou que previa que o mesmo pudesse ser levado a Conselho de Governo para a aprovação no presente mês de Setembro, o que ainda não aconteceu até à data.

Assista à entrevista completa no canal do DIÁRIO, presente no YouTube, para ficar a saber que projectos existem na Região, o que pode a população em geral fazer para ajudar os sem-abrigo e qual é o impacto negativo da esmola.